Escrevo para abrir um espaço móvel
para que em obscurecidas vias o sangue corra
para que devagar a surpresa liberte a página e o rosto
para que a substância ascenda à superfície em claras
sílabas
Um rodopio de aves interpõe-se em claras sílabas
Há um perfume que turba o pensamento e o transforma em
mãos fluidas
Imagino as sendas silenciosas as dálias o vislumbre
das grandes folhas de cristal aceso a uma canção
marinha
Páginas, páginas, a turbulência das vagas, a minúcia
das veredas os insectos e as estrelas do mesmo ombro
de um muro As colheitas do acaso, os campos do abandono
Alguém está deitado sobre o círculo branco, alguém
corre
na exaltação dos poros Os candeeiros acendem-se na
noite
Que ébria melancolia nos rostos que se inclinam
para o clamor dos violinos e para as grandes quilhas
azuis Nada resta senão a leve cinza dos frutos
e alguns nomes frágeis sobre a mesa alguma areia
António Ramos
Rosa de As Armas Imprecisas em Obra Poética Vol. II
Sem comentários:
Enviar um comentário