As das crianças, para não serem castigadas;
as dos apaixonados de uma noite
quando prometem um amor eterno;
as de quem tudo vende, corpo e alma,
para subir o preço desses bens;
as dos que inventam histórias inverosímeis
em busca de atenção;
as dos médicos, quando compreendem
que já não é possível;
as dos candidatos a eleições;
as dos melhores actores, tão perfeitas
que se tornam verdade;
as dos padres de todas as igrejas
anunciando a salvação;
as mais inofensivas ou as mais perversas;
as mais piedosas ou as mais cruéis;
as que todos descobrem num relance;
as que só se conseguem detectar
num momento feroz de lucidez;
as que apenas se dizem ao telefone
quando falta a coragem de um olhar;
as que começam por pedir desculpa
e geram outras cada vez maiores
até que uma só vida se transforme
em duas ou três vidas paralelas;
as que explodem de súbito, lavadas
pelas lágrimas de uma confissão;
as que perduram pela vida inteira
como um crime perfeito
e levamos connosco para o túmulo.
Sobre elas assenta desde sempre
o que chamamos mundo, o que chamamos ainda humanidade.
Como o sol ou a água, sempre foram
imprescindíveis para a vida humana
e Atlas agradece-as
porque tornam mais leve, dia a dia,
o peso dos seus ombros.
Fernando Pinto do Amaral
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