“O estreito de Magalhães aproximava-se e havia que embarcar na “balsa” de ponta delgada para a outra banda do canal. É a segunda vez que estou na margem do famoso estreito e, principalmente quando se observa o mapa do Chile, repleto de glaciares, milhares de ilhas e ilhotas, canais e mais canais, todos falsos e apenas um verdadeiro, como no jogo do labirinto, sinto uma enorme admiração pelo fabuloso feito do navegador luso. Onde raio foi ele buscar a “certeza” que havia uma passagem para o pacífico, pelo mar do sul (na verdade há mais que uma…)? Mas mesmo depois de adquirir essa certeza, como sabia que era ali a entrada – é verdade que não há muitas falsas possibilidades a norte, mas poderia ser mais a sul. E lançado para dentro do canal, quantos avanços e recuos terá feito, em quantos becos sem saída se terá metido!? Contra ventos e marés, contra a própria tripulação – amotinados – contra as doenças que dizimaram muitos marinheiros, e sabe-se lá quantas mais tormentas, o Homem escreveu a História e provou o seu sonho, para ir morrer envenenado por uma seta letal… É justa a estátua que tem em Punta Arenas. A “balsa” é um desconfortável ferry que liga a estrada interrompida e, por isso, transporta carros, principalmente camiões argentinos. Quando cheguei à bilheteira para comprar o bilhete, disse que viajava em bicicleta e o empregado, do outro lado do guichet, disse-me “passe, no mas”. Agradeci a borla e resguardei-me do frio constante. A travessia é curta e rápida. Na margem sul do canal, a fila de camiões era interminável e como o ferry é pequeno, provavelmente nem à meia-noite esta rapaziada se despacharia…”
Texto e imagem de Idílio Freire
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