segunda-feira, 3 de outubro de 2011

OCUPAÇÃO MILITAR DA RÁDIO E DA TELEVISÃO


Aproveitando – é o termo! – o facto de o Presidente da República Costa Gomes estar em viagem à Polónia, o Almirante Pinheiro de Azevedo, exercendo interinamente as funções, a 29 de Setembro , com o apoio do Conselho da Revolução, ordena a ocupação militar das instalações da rádio e da televisão.

Praticamente, iniciam-se aqui os dias agitados, que se prolongarão por Outubro e irão desembocar no 25 de Novembro.

A decisão, de “extrema gravidade”, como lhe chama o “Diário de Lisboa”, vem no seguimento dos acontecimentos dos últimos dias, principalmente, os que se verificaram com a invasão e destruição da embaixada e consulado de Espanha.

“Em todos estes acontecimentos foi possível detectar um denominador comum: a intenção de minar os alicerces de disciplina e da ordem, nomeadamente ao nível das Forças Armadas, que constituem a reserva moral da Nação.”

Basicamente a decisão visava, “indo ao encontro de uma funda ansiedade do Povo português,” o evitar da declaração do estado de emergência.

 “Não haverá governo possível sem um mínimo de autoridade.”, Pinheiro de  Azevedo numa breve comunicação ao país.




Logo que é conhecida a decisão do governo, milhares de trabalhadores e populares, concentram-se, nos Restauradores, frente ao Ministério da Comunicação Social.

Otelo Saraiva de Carvalho, em conferência de imprensa, proferirá, entre outras, a célebre declaração de que “poderia ter sido um Fidel de castro da Europa,” declarações que uns consideram uma “serena autocrítica revolucionária”, e outros, simplesmente patética.

“Tenho falta de estrutura política. Se tivesse essa cultura que não tenho, poderia ter sido um Fidel de castro da Europa mas tenho uma cultura limitada aos conhecimentos que adquiri ao longo dos 17 meses da primeira revolução em que me meti na minha vida.
(…) Evitei a guerra civil à custa de um equilíbrio, hoje tenho que acreditar em qualquer coisa, acredito neste governo porque tem homens honrados que me deram a sua palavra de honra que o Governo não trairia os interesses do povo; este governo deve ter uma oportunidade. Sinto-me revolucionário, no sentido em que sempre me opus e sempre lutarei contra a exploração do homem pelo homem.
(…) Em Lisboa, há centenas de milhares de revolucionários, mas na capital e, sobretudo, pelo País fora, a esmagadora maioria da população é conservadora. Não é com uma revolução extremamente violenta que se leva o povo para a revolução; se as pessoas se assustam, os seus sentimentos tornam-se contra-revolucionários.”

Lêem-se, hoje, estas palavras e percebem-se, facilmente, os passos que , ao longo de mais uma trintena de anos, conduziram ao estado em que nos encontramos.

Do “Diário de Notícias” de 30 de Setembro:

“Senhores ministros e senhores militares, o inimigo já está dentro do País, mas não somos nós, estes jornais, esta rádio, esta televisão. O inimigo está em toda a parte e é inteligente, bem pago, bem industriado e tem todo o tempo por sua conta. O Governo também tem de ser inteligente – e o seu tempo não é muito. E tem de provar que é revolucionário. Já agora mesmo, antes que se faça tarde e a noite do fascismo volte a cair sobre Portugal. Porque é esta, e só esta, a verdadeira questão.”


Legenda:
Otelo Saraiva de Carvalho com Fidel de castro, durante a sua visita a Cuba.
Título do “Diário de Lisboa” de29 de Setembro de 1975.

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