sexta-feira, 15 de junho de 2012

POVOAMENTO


No teu amor por mim a rua reconstrói-se
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor, nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera.

Ruy Belo em Aquele Grande Rio Eufrates, Edições Ática, Lisboa 1961.

Legenda: pintura de Gustav Klimt.

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