O ministro fala aos directores de escolas do país.
A sala está cheia e faz muito calor.
Disse que nas próximas décadas vão aposentar-se cerca
de 4.000 professores. Cerca de dois terços dos que hoje dão aulas têm 50 anos
ou mais e até 2034 são precisos 39 mil professores.
Noutro local da cidade, uma professora universitária, num
exame, apanhou um aluno a cabular.
O aluno indignou-se e, depois de puxar o cabelo à
professora, empurrou-a ao ponto de a professora bater com a cabeça na secretária
da sala de aula.
A professora acabou por ser levada para a urgência
hospitalar.
Tempo para a Lupa deslizar, uma outra vez para as Memórias de Rómulo de Carvalho, um enorme professor, um grande poeta que
conhecemos como António Gedeão:
1.
A partir do 25 de Abril
senti-me completamente inútil na minha qualidade de professor. Pessoalmente
ninguém me maltratou, e quando queria ir ao meu liceu, entrava nele sem
dificuldade depois de o aluno que vigiava as entradas me bater com um pauzinho
e dizer que podia seguir. Tive a consciência plena da minha inutilidade como
professor e o meu desejo imediato foi ir-me embora, deixar o ensino. Pensei que
já deveria estar então, oficialmente, em condições de requerer a minha
aposentação, ou seja de me reformar em conformidade com a lei então vigente.
2.
As repercussões do 25
de Abril nas escolas e no ensino, em geral, de que já vos dei exemplos, são
dignos de registo. Razão teve o senhor Guerra, contínuo do Liceu Pedro Nunes,
quando se aproximou de mim para me dizer, com voz velada: “Quer ouvir esta, sr.
Doutor? Então um aluno daquela turma, que estava à espera da professora de
Matemática, não me vem perguntar: “então a gaja de Matemática não vem?” O
senhor Guerra ficou varado. Nunca pensara que um aluno pudesse fazer-lhe uma
pergunta naqueles termos. E então disse-lhe: Ó menino! Que maneiras são essas
de falar? E sabe o que ele me respondeu, senhor doutor? Estamos em Democracia,
senhor Guerra.
Legenda: Rómulo de Carvalho/António Gedeão
1 comentário:
Ora aí está o busilis, é que -por exemplo- deixaram de haver filhas/os e passaram a haver princesas e o NÃO desapareceu do vocabulário educacional...
Depois queixem-se....
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