sábado, 12 de julho de 2025

CONVERSANDO


Em miúdo pensava muito, não eram sonhos, porque não me lembro de sonhar, com barcos, comboios, aviões, moinhos de vento.

Duvido que coisas destas façam, hoje em dia, pensar um único miúdo.

Durante muito tempo fui guardando, num caderno, palavras, poemas, fotografias de barcos, comboios, aviões, moinhos de vento.

Como este poema de Gastão Cruz publicado  no nº 5, Fevereiro de 1960, dos Cadernos do Meio-Dia, coordenação do António Ramos Rosa:

 

Erguem-se os braços como velas altas

como um comboio que largasse a linha

e fosse perseguido alucinado

 

Sobem os braços nos outonos verdes

nas primaveras em que a folha cai

 

Braços com mar por dentro

e sol por fora

que nadam na vida

sem redes nem areia

e são pontes de todos os espaços

 

Braços ontem

nas tardes de hoje e noites de amanhã

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