Sim, eu sei: estou a ficar velho.
Chega-se aos
80 anos e começamos a olhar para o lado.
Há algum
tempo que ando em releituras.
Já o li, já o
reli e volto a andar às voltas com um livro maravilhoso: As Memórias de Rómulo
de Carvalho ou António Gedeão.
A Lupa tem
andado por aquelas palavras:
«Na verdade, já que estou a falar-vos em
fim da existência, dir-vos-ei a ideia de tal fim nunca me perturbou, nem em
velho nem em novo. Nunca consegui adaptar-me à vida e sempre nela vagueei com
desagrado, embora sorrindo e até gracejando. Sempre procurei dar aos outros
aquilo que sempre deles desejei receber mas cada um é um baluarte inacessível.
Bate-se à porta e ninguém responde. Trabalhei a vida inteira e procurei ser
útil a quem de mim se aproximava, o que hoje me é afirmado quando isso vem a
propósito. Agora cheguei ao termo final, mais de trinta e dois mil dias de vida
e, presentemente, só estou a dar incómodos aos outros, sem utilidade de
qualquer espécie. Ela que venha pois, a morte, que será bem recebida. Alguns
olhos chorarão por mim, mas com o tempo tudo passa, e secarão.»
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