quarta-feira, 9 de julho de 2025

À LUPA

Sim, eu sei: estou a ficar velho.

Chega-se aos 80 anos e começamos a olhar para o lado.

Há algum tempo que ando em releituras.

Já o li, já o reli e volto a andar às voltas com um livro maravilhoso: As Memórias de Rómulo de Carvalho ou António Gedeão.

A Lupa tem andado por aquelas palavras:

«Na verdade, já que estou a falar-vos em fim da existência, dir-vos-ei a ideia de tal fim nunca me perturbou, nem em velho nem em novo. Nunca consegui adaptar-me à vida e sempre nela vagueei com desagrado, embora sorrindo e até gracejando. Sempre procurei dar aos outros aquilo que sempre deles desejei receber mas cada um é um baluarte inacessível. Bate-se à porta e ninguém responde. Trabalhei a vida inteira e procurei ser útil a quem de mim se aproximava, o que hoje me é afirmado quando isso vem a propósito. Agora cheguei ao termo final, mais de trinta e dois mil dias de vida e, presentemente, só estou a dar incómodos aos outros, sem utilidade de qualquer espécie. Ela que venha pois, a morte, que será bem recebida. Alguns olhos chorarão por mim, mas com o tempo tudo passa, e secarão.»

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