quinta-feira, 24 de julho de 2025

À LUPA


 O ministro fala aos directores de escolas do país.

A sala está cheia e faz muito calor.

Disse que nas próximas décadas vão aposentar-se cerca de 4.000 professores. Cerca de dois terços dos que hoje dão aulas têm 50 anos ou mais e até 2034 são precisos 39 mil professores.

Noutro local da cidade, uma professora universitária, num exame, apanhou um aluno a cabular.

O aluno indignou-se e, depois de puxar o cabelo à professora, empurrou-a ao ponto de a professora bater com a cabeça na secretária da sala de aula.

A professora acabou por ser levada para a urgência hospitalar.

Tempo para a Lupa deslizar, uma outra vez para as Memórias de Rómulo de Carvalho, um enorme professor, um grande poeta que conhecemos como António Gedeão:

1.

A partir do 25 de Abril senti-me completamente inútil na minha qualidade de professor. Pessoalmente ninguém me maltratou, e quando queria ir ao meu liceu, entrava nele sem dificuldade depois de o aluno que vigiava as entradas me bater com um pauzinho e dizer que podia seguir. Tive a consciência plena da minha inutilidade como professor e o meu desejo imediato foi ir-me embora, deixar o ensino. Pensei que já deveria estar então, oficialmente, em condições de requerer a minha aposentação, ou seja de me reformar em conformidade com a lei então vigente.

2.

As repercussões do 25 de Abril nas escolas e no ensino, em geral, de que já vos dei exemplos, são dignos de registo. Razão teve o senhor Guerra, contínuo do Liceu Pedro Nunes, quando se aproximou de mim para me dizer, com voz velada: “Quer ouvir esta, sr. Doutor? Então um aluno daquela turma, que estava à espera da professora de Matemática, não me vem perguntar: “então a gaja de Matemática não vem?” O senhor Guerra ficou varado. Nunca pensara que um aluno pudesse fazer-lhe uma pergunta naqueles termos. E então disse-lhe: Ó menino! Que maneiras são essas de falar? E sabe o que ele me respondeu, senhor doutor? Estamos em Democracia, senhor Guerra.

Legenda: Rómulo de Carvalho/António Gedeão

1 comentário:

Seve disse...

Ora aí está o busilis, é que -por exemplo- deixaram de haver filhas/os e passaram a haver princesas e o NÃO desapareceu do vocabulário educacional...
Depois queixem-se....