As vidas de cada vida são tantas, tantas, que é impossível que se possa dizer que este ou aquele, são livros de uma vida.
Peguei há
dias em O Estrangeiro do Albert Camus e poderia dizer que é o livro de
uma vida. Não digo. Mas é um grande livro. Sujeito a uma série larga de
leituras – quantas vezes o João Bénard da Costa viu o Johnny Guitar? - o livro
tem um milhão de sublinhados, mas a minha atenção de agora fixou-se na frase:
«… a partir desse dia senti que a minha
casa era a minha cela, e que a vida parava ali.»
Meursault
estava preso porque, a seguir à morte da mãe num asilo de velhos, matara um
árabe.
Donde partiu
esta minha atracção pelas casas?
Só pode ter
sido naquele poema do Ruy Belo
«Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro»
A tal ponto
que arranjei uma etiqueta para casas e fui lá colocando o que sobre casas ia
encontrando. Passei por lá os olhos e trago-vos algumas leituras, a maior parte
são versos de poemas e acabo de ler no João Miguel Fernandes Jorge que «um verso
fora do poema não deve despertar qualquer interesse.»
Nada se passa por detrás das janelas
desde que deixámos de estar por detrás delas.
Palavras
encontradas em Alexandre O’Neill
… a
primeira estrela é como a última casa.
Rainer Maria
Rilke
A minha casa é onde estás.
José
Agostinho Baptista
O importante não é a casa onde moramos,
mas onde, em nós a casa mora.
Mia Couto
Habitamos
uma casa quando
a sombra dos nossos gestos
fica mesmo depois
de fecharmos a porta.
Margarida Ferra
Acho que quando for grande nunca vou conseguir encontrar o caminho para casa.
Autor desconhecido
Também nós não voltaremos à mesma casa.
Manuel S.
Fonseca

2 comentários:
O ESTRANGEIRO é um grande livro, para ler e reler.
Na última página de cada livro que leio, ponho sempre uma nota (a minha opinião) sobre a leitura que acabei de fazer, neste anotei o seguinte:
-"grande livro, o que nem sempre equivale a muitas páginas (130) mas é belíssimo pois relata a vida de um homem estranho mas afinal tão humano. Acabei de o ler em 13.03.2011"
Útil e interessante trabalho, caro Seve.
Por mim, sublinho, escrevo nas margens, vou deixando papéis com ideias, apontamentos.
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