sábado, 19 de junho de 2010

BOLAS PRÓ PINHAL!

Inesquecível campeonato, portanto. A que faltou apenas, para que fosse perfeito (e estes é um lamento), que a organização tivesse pegado na sugestão de José Saramago e incluísse na festa da final uma homenagem a Sophia, a enorme poetisa que de forma tão luminosa cantou Portugal e a Grécia e foi ontem, horas antes do jogo, a enterrar.
Um minuto de silêncio, como ele alvitrou, ou então a rápida leitura de alguns versos (são tantos e tão belos). Imaginemos, imaginemos só por um instante que, depois dos hinos nacionais, uma voz (Luís Miguel Cintra, por exemplo) se ouvia no estádio dizendo aqueles versos que logo tantos lembraram na morte de Sophia:


"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi ao pé do mar"

Ou estes de Hélade:
"Colunas erguidas em nome da iminência
-Deuses cruéis com homens vitoriosos."

Teríamos nesse instante celebrado o futebol e a cultura. Com esses breves segundos lembrando a milhões de compatriotas nossos, que o epíteto de herói não se esgota numa defesa de Ricardo, numa finta de Ronaldo, num passe de Figo. Que há na Literatura, na Música, na Ciência, outras selecções de cidadãos excelentíssimos de quem, se os conhecermos, nos orgulharemos.”

Adelino Gomes, reportagem da final do Euro 2004, publicada no “Público”

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