terça-feira, 29 de junho de 2010

SAINT-EXUPÉRY EM LISBOA



A 29 de Junho de 1900 nascia Antoine Saint-Exupéry, autor entre outros, desse belíssimo livro, para todas as idades, que dá pelo nome “O Principezinho”.

Saint-Exupery, que entendia que “o essencial é invisível aos olhos”, em


Novembro/Dezembro de 1940, esteve em Lisboa, aguardando, juntamente com outros refugiados, o barco que os levaria a Nova Iorque.


Apercebeu-se, então, que num mundo em guerra, Portugal exultava com a festa da “Exposição do Mundo Português". Isso angustiou-o ao ponto de o manifestar em “Carta a um Refém”:


“Quando em Dezembro de 1940, atravessei Portugal a caminho dos Estados Unidos, Lisboa surgiu-me como uma espécie de paraíso claro e triste. Falava-se lá muito então. De uma invasão iminente, e Portugal aferrava-se à ilusão da sua felicidade. Lisboa que edificara a mais deslumbrante exposição que houve no mundo, sorria com um sorriso um tanto pálido, como o daquelas mães que não têm quaisquer notícias de um filho que foi para a guerra e se esforçam por salvá-lo com a sua confiança: “O meu filho está vivo, visto que eu sorrio…” “Olhem – dizia, pois, Lisboa – como estou feliz e sossegada e bem iluminada…” O continente inteiro pesava sobre Portugal à maneira de uma montanha selvagem, carregada com as suas tribos de rapina; Lisboa em festa desafiava a Europa: “Pode-se lá tornar-me como alvo, quando ponho tanto empenho em não me esconder de modo algum! Quando sou tão vulnerável!...”
As cidades da minha terra eram, de noite, cor de cinza. Desabituara-me de qualquer claridade, e esta capital resplandecente provocava em mim um vago mal-estar. Se as imediações estão sombrias, os diamantes de uma vitrina demasiado iluminada atraem aos dominantes. Sente-se que andam por ali. Sobre Lisboa, eu sentia pesar a noite da Europa, habitada por grupos errantes de bombardeiros, como se tivessem de longe farejado aquele tesouro
Mas Portugal ignorava o apetite do monstro. Recusava-se a acreditar nos maus sinais. Portugal falava de arte com uma confiança desesperada. Ousariam esmagá-lo no seu culto da arte? Expunha todas as suas maravilhas. Ousariam esmagá-lo nas suas maravilhas? Mostrava os seus grandes homens. À falta de exército, à falta de canhões, erguera contra o ferro do invasor todas as suas sentinelas de pedra; os poetas, os exploradores, os conquistadores. Todo o passado de Portugal, à falta de exército e de canhões, barrava o caminho. Ousariam esmagá-lo na sua herança de um passado grandioso? (…)
Mas era triste.
Sem dúvida não sentiam nada. Deixei-as. Ia respirar à beira-mar. E aquele mar do Estoril, mar de cidade termal, mar domesticado, parecia-me também entrar naquele jogo. Impelia para dentro da baía uma única vaga mole, toda luzidia de luar, como um vestido de cauda fora de estação".


Desaparecido na noite de 31 de Julho de 1944, aos 44 anos, quando o seu avião se despenhou nas águas do Mediterrâneo, ao largo de Marselha, Saint-Exupéry já não assistiu ao lançamento da edição francesa de “O Principezinho”.


Pelas estrelas e pelo mar, Antoine Saint-Exupéry, dividiu a sua sepultura.

“- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Procuro os homens. Que significa “cativar””
- Os homens têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?
- Não, disse o principezinho. Ando à procura de amigos. Que significa “cativar”?
- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa “criar laços”.


Legenda: Transportes públicos para a “Exposição do Mundo Português”. Fotografia tirada daqui

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