A Noite
José Saramago
Capa: José Araújo
Editorial Caminho, Lisboa, Março de 1979
A Noite constitui a estreia de José Saramago no teatro.
Como pude eu escrever uma peça? Aí está uma questão para que ainda não fui capaz de encontrar resposta e que eventualmente a crítica repetirá, não já em todos os tons, mas naqueles só que exprimam decepção, azedume, contrariedade vária ou ironia.”
- de uma entrevista ao semanário Sete, 16 de Maio de 1979.
É o primeiro livro de José Saramago publicado pela Editorial Caminho.
José Saramago escreveu A Noite para Luzia Maria Martins, que dirigia a Companhia Teatro Estúdio de Lisboa, sedeada no Teatro Vasco Santana, na antiga Feira Popular, em Entrecampos.
O livro é, por isso, dedicado a Luzia Maria Martins, que me achou capaz de escrever uma peça.
Na dedicatória também aparece Isabel da Nóbrega, nome que será constante em todos os livros que Saramago publicará.
Quando Saramago conhece Pilar del Rio, o nome de Isabel da Nóbrega deixa de aparecer nas dedicatórias.
Possivelmente, por falta de apoios financeiros, Luzia Maria Martins não conseguiu avançar com o projecto.
Será Joaquim Benite, com a Companhia do Teatro de Campolide, que em Junho de 1979, no Teatro da Academia Almadense,a levará à cena .
Escreve José Saramago na contra capa do livro:
A noite de que neste livro se fala é a de 24 para 25 de Abril de 1974. Aqui se diz algum pouco do que aconteceu ou podia ter acontecido por trás das janelas iluminadas das redacções e das tipografias, enquanto na rua o regime fascista principiava a cair. Entram jornalistas de alto e baixo, tipógrafos, o director de uns, o administrador de todos. Não há retratos, mas talvez se encontrem retratos. Tal como na vida dos dias todos, uma gente é boa, outra ruim, outra não sabe o que seja nem sabe o que é. Estes são firmes, aqueles são fracos provavelmente porque nunca se lhes pediu a humana ousadia de o não serem. Não será uma história verdadeira, mas é, com certeza, uma história sem mentira.
Cenário da autoria de António Alfredo e direcção musical de Carlos Paredes.
Joaquim Benite, sobre a encenação:
António Alfredo inventou um cenário que ocupava todo o teatro e que ligava o balcão (lugar imaginário da tipografia) ao palco (a redacção), através de um passadiço suspenso por fios de aço – lembrança dos meus tempos de “A República”, que inspiraram, de resto, também o gabinete do director, dominando a redacção, idêntico ao que o velho Artur Inês (quem é que se lembra dele?...) ocupava no jornal da Rua da Misericórdia.
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