Não estamos no Inverno, mas chove na tarde de Lisboa e, talvez por isso, os romances policiais vieram-me à lembrança.
Os dias do meu pai em Almoçageme eram passados a ler romances policiais. A esmagadora maioria dos volumes da Colecção Vampiro que por aqui estão, foi ele que os comprou. No intervalo das leituras subia ao Café Adraga, pedia ao João uma sandes mista em pão saloio – não te esqueças que é aparada! – e fazia descer, bem fresca, meia garrafinha de branco Beira-Mar.
Tenho um recorte de jornal que fala da Colecção Vampiro.
Lamentavelmente não tem indicação, nem do autor, nem do jornal mas acho-o uma maravilha. Reza assim:
António Gedeão, poeta, escreveu: “A terra do meu pai era pequena e os transportes difíceis. Não havia automóveis, nem aviões, nem mísseis.” Mas havia com certeza, livros da Vampiro. A Vampiro não é uma colecção. É uma instituição. Uma perseguição. Nasci e minha mãe, combalida, lia entre duas mudas de fraldas, “A Morte de Lord Edgware”, de Agatha Christie. Mais tarde, o pai do meu amor embalou-a, numa tarde de domingo, com a mão esquerda apenas, pois a direita segurava o “O Caso da Loura Provocante”, de Stanley Gardner. Em 1969, o Homem pisava pela primeira vez a Lua e a minha irmã lia o “O Ouro da Evasão”, de Frank Gruber. Cinco anos depois, o 25 de Abril interrompeu-me a leitura de “Seis Segundos Para Matar”, de Brett Halliday, e, aqui há tempos, levei para a maternidade, enquanto esperava que a minha filha nascesse, “O Mistério da Estrela da Manhã”, outra vez de Agatha Christie.
Ainda por romances policiais.
Em tempos, o JL pediu, a alguns escritores e cineastas portugueses, que escolhessem os melhores livros da Colecção Vampiro.
Esta foi a escolha de Dinis Machado:
O Imenso Adeus – Raymond Chandler
Perdeu-se Uma Mulher – Raymond Chandler
O Erro de Maigret – Georges Sinenon
O Assassinato de Roger Ackroyd – Agatha Christie
Os Crimes do Bispo – S.S. Van Dine
A Chave de Vidro – Dashiell Hammett
O Caso sos Bombons Envenenados – Erle Stanley Gardner
O Homem do Fato Castanho – Agatha Christie
A Aldeia de Vidro – Ellery Queen
O Sinal do Morto – John Dickson Carr
Um Homem de Talento – Patrícia Highsmith.
Para mim, O Imenso Adeus de Raymond Chandler, na brilhantíssima tradução de Mário-Henrique Leiria, é mesmo o melhor livro da colecção.
A ele tenha voltado vezes que já não consigo contar:
Gosto dos bares à tardinha, logo que abrem. Quando ainda há ar fresco e limpo e tudo está luzidio e o tipo do bar dá a última olhadela aoa espelho para verificar se a gravata está direita e o cabelo bem liso. Gosto das garrafas arrumadas nas prateleiras do fundo e dos copos bem brilhantes e da sensação de antecipação que se tem. Gosto de ver o homem misturar a primeira bebida da tarde e pô-la no bar com o pequeno guardanapo bem dobrado ao lado. Gosto de a saborear sem pressa. A primeira bebida sossegada num bar sossegado – é estupendo!
Eu concordei.
- O álcool é como o amor. O primeiro beijo é mágico, o segundo é intenso e o terceiro é rotina. Depois só resta despir a rapariga.
- E isso é mau? – perguntei-lhe.
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