O "Bar Americano" era diferente do “British” e do “English”.
Uma sala pequena, um balcão de madeira, também paredes de madeira. Um bar de silêncios.
Como todos os bares do Cais do Sodré a clientela era constituída por trabalhadores de agências de navegação e similares.
Uma conclusão simples: dos três bares o “British” era o bar popular, o bar de toda a gente.
E para que o retrato fique um pouco mais composto, voltamos ao “Livro de Bordo” do José Cardoso Pires, ele que um dia disse que um “barman” é um comandante do prazer:
Não há dúvida, os bares são realmente navegações pessoalíssimas. Do outro lado da rua tenho “O Americano” que, como figura de proa, não ostenta um relógio de intrigar mas um possante urogalo embalsamado num altar de parde. Em tempos foi um balcão de suevos, daneses e britânicos, funcionários, todos eles, das agências de navegação do Cais do Sodré, e aqui, hoje que o dia está de feição, torno a tropeçar noutro poeta: Pessoa. O Pessoa, sempre o Pessoa, o Pessoa, nosso fadário. Também ele, nos gloriosos anos trinta, frquentava “O Americano” às horas litúrgicas dos “morning drinkers”. Navegações é o que eu digo. Nos bares do Cais do Sodré ninguém está livre de apanhar com uma porta à deriva pela proa.
Hoje “O Americano” perdeu lastro, balança à tona dum passado de bebedores em inglês, reflectidos no “gin-tonic” ou no “sling”. Está quase em seco, como se vê, sem esses navegantes de balcão; e a emoldurar a sua solitude exibe calendários de “shi-chandlers” com navios de grande curso a fumegarem nas paredes.
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