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Crónica de Manuel António Pina no "Jornal de Notícias" de hoje:
"Os sacrifícios devem ser repartidos de forma equitativa e justa", disse o presidente da República em Faro no discurso do 10 de Junho.
Trata-se do género de frase que fica bem na peanha de uma daquelas estátuas em que o herói, hirto, estende o braço apontando o caminho aos mortais comuns.
Não será surpreendente que, daqui a uns anos, quando a memória dos dias presentes e dos passados próximos se tiver diluído, Cavaco tenha algures uma estátua dessas e que a frase lá esteja, brônzea.
Porque então já ninguém se interrogará acerca do estranho sentido que o actual presidente dará a palavras como "equidade" e "justiça".
De facto, quem se recordará nessa altura de que Cavaco apoiou uma repartição de sacrifícios decretada por sucessivos PEC pondo pobres, desempregados, pensionistas e trabalhadores a pagar uma crise que encheu os bolsos dos principais responsáveis por ela?
E quem se lembrará ainda (se até o próprio parece tê-lo entretanto esquecido) do modelo selvagem de crescimento que impôs ao país quando foi primeiro-ministro, assente precisamente no aumento das desigualdades sociais e da pobreza?
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