“Ontem, no cume do esforço, pensava: que raio, nas competições de ciclismo, a última etapa é de “exibição”, passeio, triunfo dos vitoriosos, parecendo haver um acordo tácito de não ataques – para além do próprio percurso ser “fácil”. Porque não tenho direito ao mesmo tratamento, indignava-me!? E não é que hoje, ao abrir a porta do mundo, me deparo com um céu azul e sem nuvens e o silêncio absoluto da manhã estremunhada, sem bafo nem sopro, com os pulmões congelados pelo frio. Nem queria acreditar e fui à porta por mais de uma vez… O enorme lago Fagnano tem início nas imediações da aldeia de Tolhuin, sendo uma das suas principais atracções. As águas, densamente azuis, perdem-se na longínqua cordilheira nevada que o rodeia. A estrada alonga-se à ilharga da margem, num jogo de escondidas definido pelas colinas e floresta, num surpreendentemente cemitério de árvores em decomposição no solo. Apesar do relevo irregular, em constante carrossel, e do frio gélido da manhã, gozava cada quilómetro, incrédulo com a acalmia face ao dia anterior.”
Texto e imagem de Idílio Freire
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