Um amigo do meu pai que trabalhava na Companhia Portuguesa de Pesca, no Ginjal, é que lhe arranjava as garrafas, sem rótulo e com uma rolha de cortiça. Falo de óleo de fígado de bacalhau, o terror da minha infância. Raquítico que era, tive que o tomar.
Ainda hoje sinto o instante da chegada da colher à boca. Mais tarde passei a tomar a mistela em cápsulas.
Mesmo em cápsulas, acabava por vir à boca aquele sabor horroroso.
Não há imagem dos frascos do amigo do meu pai que trabalhava na Companhia Portuguesa de Pesca, no Ginjal.
As cem maneiras de fazer bacalhau do público não fala do óleo de fígado de bacalhau, mas ficam como ilustração e, também fui buscar uma citação de “Ernestina”, onde a págs. 145. J. Rentes de Carvalho nos dá conta desse pesadelo chamado óleo de fígado de bacalhau:
“A garrafa de óleo de fígado de bacalhau acendeu vívida a recordação e instintivamente afastei-me da mesa, mas nessa noite e daí em diante a minha resistência seria vã.
Unidos como nunca os tinha visto, meu pai sentou-se na cadeira e, segurando-me os braços atrás das costas, prendeu-me as pernas entre as suas para evitar que esperneasse; minha mãe puxou-me a cabeça para trás, apertou-me o nariz, meteu-me a colher entre os dentes e, lentamente, lentamente, deixou escorrer aquela peçonha.
Reviraram-se-me as entranhas, mas eles continuavam a segurar-me e de nada valeu o choro; aquilo era para meu bem, ia crescer e ficar um homenzarrão.”
J. Rentes de Carvalho em “Ernestina” Quetzal”, Lisboa 2001
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