Na passada quinta-feira, na Casa do Alentejo, o PCP realizou uma sessão evocativa da publicação do livro. Intervenções de Jerónimo de Sousa, Manuel Gusmão e Pilar del Rio.
Parte final da intervenção de Pilar del Rio:
“E assim, caminhando e vendo como o mundo não cresce nem em piedade nem em sabedoria apesar do tempo e dos inventos, um dia distraído chega em que te pedem algo assim como um prólogo para um grande livro que vai ser reeditado. Agradeces, dizes que o farás, mas quando te informam de que se trata de Levantado do chão experimentas os suores do homem que descobriu o fogo ou calculou a profundidade dos primeiros passos na Lua, e, já sem outro remédio que pôr-te à escrita, olharás em frente como é de lei, mas procurarás um apoio para percorrer o livro, talvez a mão de uma mulher Mau-Tempo, uma que experimentou o gozo de integrar uma manifestação sublime, embora logo, para sua desgraça, tenha descoberto que todas as festas têm um fim e às vezes, como em épocas pretéritas, a exaltação não dura mais que umas horas, o tempo necessário para que as hostes de reagrupem e o imperador mande queimar Roma. Uma mulher guia que aprendeu por experiência que os dias levantados e principais podem sê-lo todos, desde que sejam fruto do esforço e da consciência crítica, não de um tempo que não saiba assinalar factos e datas para distinguir-nos no magma confuso que nos habita e que habitamos, por esta ordem.
Ou seja, uma mulher leva-nos por dentro do livro de Saramago, esse que escreveu para contar de outra maneira a vida de gentes que se confrontam com a fatalidade como se combater fosse o seu destino e não levar um salário para casa, trabalhar em boa paz e celebrar uma boda com alguma coisa mais que uns bolos secos e a promessas de filhos que amanhã serão o sustento dos pais e hoje a aflição de ter que repartir a sardinha. Digamos então que Faustina, que se foi com o noivo e com ele, a céu aberto.,”
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