É vulgar ouvir dizer que Portugal é um país de poetas. Mas é mais um país de escrevinhadores de versos. Poetas são poucos.
Seja como for há cada vez menos editoras a apostar na edição de poesia.
Conversas com livreiros, sim ainda há livrarias, poucas mas há, mostram de que passam dias e dias sem vender um único livro de poesia, o que permite concluir que a poesia se encontra nas franjas de um país que regista um dos mais baixos níveis de literacia da Europa.
Carlos de Oliveira, no seu muito interessante “O Aprendiz de Feiticeiro”, escrevia em 1969:
“A poesia, não obstante vivermos numa terra de poetas, quem sabe se por isso mesmo, contenta-se com que eles se presenteiem reciprocamente os livros e se leiam uns aos outros.
A poesia teve quase sempre pouco eco no bolso do português que compra livros e dos editores ou directores de publicações, que prefeririam hoje a pagar devidamente os direitos de autor a um tipo que faz versos.”
O Manuel António Pina é, mais ou menos, da mesma opinião:
“Há vida para além da poesia. O Al Berto tinha um plano quinquenal terrível para pôr as pessoas a lerem poesia. Eu não vejo interesse nenhum nisso. A poesia é uma forma de felicidade como outra qualquer – e por acaso até acho que as pessoas que fazem poesia e as pessoas que lêem poesia são as mesmas. Mesmo que não mostrem, têm de certeza sonetos na mezinha-de-cabeceira, com água a rimar com mágoa. As 300 pessoas que em Portugal compram livros de poesia são as 300 pessoas que escrevem poesia também – já pensei juntá-las para uma jantarada."
As dúvidas de Jean Cocteau: “A poesia é indispensável – se ao menos pensasse para que serve.”
Legenda: “A Vase of Flowers”, pintura de Paul Gauguin
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