Neste dia, e não no dia 18, como consta na Conservatória do Registo Civil, em 1922, na Azinhaga do Ribatejo, nascia José Saramago.
Nunca me interessei por autógrafos, sejam em livros, discos, o que quer que seja. Tirando os livros que os amigos escrevem, e me oferecem, contam-se pelos dedos de uma mão, e ainda sobram dedos, os livros autografados. Que me lembre, há um livro de José Gomes Ferreira e outro do José Saramago.
Naquele tempo a organização das tasquinhas na Festa, era muito diferente da que hoje existe.
Cheguei-me ao pré pagamento da tasquinha de São Pedro do Sul, e passados uns instantes verifico que à minha rente estava o José Saramago,
José Saramago ainda não tinha publicado o “Levantado do Chão”, era um autor conhecido, apenas, por uma imensa minoria. Cumprimentei-o.
Em Dezembro de 1976 José Saramago publicara “Manual de Pintura e Caligrafia”. Ainda hoje é um livro de que gosto muito e desse gosto dei conta a Saramago, e por ali ficámos um pouco à conversa sobre o livro, de como o descobrira, aquando da publicação de “Os Poemas Possíveis”, do excerto de um texto meu sobre “Deste Mundo e do Outro” que colocaram nas badanas de “A Bagagem do Viajante” publicado em 1973 pela Editorial Futura.
Saramago lembrava-se da citação panegírica. Gostara, mas a escolha não tinha sido dele, porque, as badanas, normalmente, são da responsabilidade dos editores.
Saramago lembrava-se da citação panegírica. Gostara, mas a escolha não tinha sido dele, porque, as badanas, normalmente, são da responsabilidade dos editores.
Servidos dos comes e bebes que à tasquinha de São Pedro do Sul nos levara, cada um partiu para seu lado e à despedida o Saramago disse que daí a pouco estaria no Centro do Livro e do Disco para uma sessão de autógrafos e poderíamos conversar um pouco mais.
Sim, porque naquele tempo, Saramago ainda não tinha extensas filas de leitores para obterem autógrafos, e havia alguns tempos mortos.
Sim, porque naquele tempo, Saramago ainda não tinha extensas filas de leitores para obterem autógrafos, e havia alguns tempos mortos.
Da conversa com José Saramago retenho todos os pormenores, até da luminosidade do cair daquela tarde de Setembro consigo lembrar-me.
Obviamente as despesas da conversa foram de Saramago, limitando-me a beber as palavras claras daquele conversador nato.
Nunca mais encontrei um conversador como ele e, estou bem certo, não mais encontrarei.
Obviamente as despesas da conversa foram de Saramago, limitando-me a beber as palavras claras daquele conversador nato.
Nunca mais encontrei um conversador como ele e, estou bem certo, não mais encontrarei.
Cito Cecília Meireles: “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos; há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam. Mas há pessoas que, simplesmente, aparecem em nossa vida e que marcam para sempre..."
Comprei “ O Ano de 1993”, edição da “Futura” e José Saramago nele deixou escrito:
Comprei “ O Ano de 1993”, edição da “Futura” e José Saramago nele deixou escrito:
“Na Festa do Avante 77: Saudade!”
É isso: saudade.
Nunca mais fui a uma sessão de autógrafos do José Saramago.
Quando em 1987, a “Caminho” publicou “O Ano de 1993”, com as lindíssimas ilustrações da Graça Morais, ainda ponderei pedir a José Saramago um autógrafo para aquela edição.
Mas, mesmo não concordando de todo com a recomendação de Cesare Pavese, de que não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes, foi isso que acabou por suceder.
E, de mim para mim concluí, que importante, importante era o autógrafo daquele Setembro de 1977, que fez de mim um tipo feliz.
Mas, mesmo não concordando de todo com a recomendação de Cesare Pavese, de que não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes, foi isso que acabou por suceder.
E, de mim para mim concluí, que importante, importante era o autógrafo daquele Setembro de 1977, que fez de mim um tipo feliz.
Ainda hoje sinto
essa felicidade, o afecto, cumplicidades silenciosas, coisas simples que nos
emocionam até aos limites da ternura.
Mais não digo,
porque não sei como fazer.
Hemingway dizia
que uma palavra a mais mata qualquer história.
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