quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SARAMAGUEANDO


Consequência do 25 de Novembro de 1975, José Saramago foi despedido do “Diário de Notícias”. 

No último dos seus “Apontamentos”, saído na edição de  25 de Novembro, podia ler-se:

“O mais cómodo, seria nada escrever. O mais prudente, seria deixar passar a onda que varre o País, este deflagrar das contradições que minam as Forças Armadas, incapazes de, unitariamente, aceitarem o socialismo ou porem-se de acordo sobre um projecto político socialista. Mas este jornal, que sem ambiguidades nem hesitações se pôs ao lado das classes trabalhadores, não foge à sua responsabilidade. (…)
Houve vítimas. Haverá prisões e, provavelmente, condenações. Fica por saber, depois do que aconteceu, o destino disto que se dizia ser o socialismo português. É essa resposta que se exige: em nome de todas as promessas e garantias com que o povo foi contemplado durante ano e meio… Quem pode responder?”

Em princípio, é difícil imaginar que o despedimento de um trabalhador tenha aspectos positivos. O de José Saramago prova o contrário: ter perdido o emprego no “Diário de Notícias” foi a sorte de José Saramago, foi a sorte da literatura portuguesa, a nossa sorte.

Como, em conversa, muito acertadamente, lhe disse o jornalista Adelino Gomes:

“Ganhámos um escritor, não sei se tínhamos ganho um jornalista comunista interessante…

Legenda: Desenho de André Carrilho, 2008.
Faz parte de um conjunto de postais comprado, em Julho de 2008, aquando da Exposição "José Saramago: A Consistência dos Sonhos", que esteve patente no Palácio da Ajuda.

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