Quando em 2001 a UNESCO classificou a "9ª Sinfonia" de Beethoven como património da Humanidade, já o meu pai não estava por cá, para podermos discutir o assunto.
Por mim teria opinado que não entendia por que uma música teria de ser património da Humanidade.
Mas porquê Beethoven?
Por que não “A Sagração da Primavera” de Stravinsky, ou “A Paixão Segundo São Mateus” de Bach, ou o “Requiem” de Mozart, ou a “Sinfonia Incompleta” de Schubert?
Certamente não discutiríamos a escolha, o empolgamento da “Ode à Alegria”, o sol para iluminar os caminhos do homem, um abraço aos homens onde quer que eles se encontrem.
Richard Wagner teria concordado, pois considerava a “9ª Sinfonia” como o limiar absoluto do que é possível conceber em música.
Mas o meu pai tinha uma especial predilecção pela “7ª Sinfonia”: prazeres secretos que cada um deve guardar dentro de si e, por isso, não revelados.
Jorge de Sem, no seu livro “Fidelidade” tem um poema, “Como de Vós”, que dedicou “à memória do papa Pio XII que quis, ouvir, moribundo, o “Alegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven:
“Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,
importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.
Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo”
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