sábado, 6 de novembro de 2010

VENDENDO POEMAS...


Ainda a propósito de poesia, repesco este “post” publicado por Vitor Dias, em 29 de Junho de 2008, no seu “O Tempo das Cerejas”:

Ontem, eram para aí 16,30 hs, fui abordado na Rua Garret por uma mulher, talvez de trinta e tal anos, sobraçando uma pasta de plástico verde verde com papéis, que me perguntou se gostava de poesia. Explicou-ma a seguir que vendia poemas seus como forma de ir sobrevivendo. Disse-me que eram dois euros por poema, mas por questão de trocos e por alma frágil, o poema acabou por me custar 5 euros, pelo que passa à categoria do único poema publicado neste blogue que foi pago. Registo a criatividade desta forma de enfrentar as dificuldades em que tanta gente está mergulhada. E não estou arrependido pelo dinheiro gasto, seja pelo poema (autêntico ou não, não tenho maneira de saber) seja sobretudo pela pessoa.

“Verto a palavra
Sobre esse teu corpo vítreo
Junto ao abandono
Da memória
Floresceu o esgar
Prenunciando o deleite.
Quisera erguer
a mão-palavra
De encontro ao muro
Ao pensamento-brisa
Água cristal
E ao tocar o som
Avisto a Lua
Em acorde de nudez
Verto a palavra
Encontro o vento
Encontro o silêncio
E nada te disse”

Naíra Leonora Correia

Sem comentários: