terça-feira, 30 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Narrar é a última forma de contrariar o fim.

Lídia Jorge

Legenda: Italo Calvino, fotografia de Sebastião Salgado

VELHOS RECORTES


 O Notícias da Amadora publicou, em devido tempo, uma colecção de fascículos em que deu a conhecer a enorme quantidade de notícias e artigos de opinião cortados, parcial, ou totalmente pela censura de Salazar e Caetano.

Este é um desses documentos.

EM BUSCA DE FLORES AZUIS NO DESERTO

Com imensa pena, obrigo-me a dizer que não acredito em nada do que esta gente tem face à guerra na faixa de Gaza.

Lamento mesmo muito!


«Donald Trump prometeu ontem, em Washington, a paz eterna para o Médio Oriente. Com Benjamin Netanyahu ao seu lado, o presidente dos EUA apresentou algumas das 20 medidas que farão parte de um plano de paz para terminar com a guerra na Faixa de Gaza.

O plano prevê a libertação de todos reféns israelitas (vivos ou mortos) e a libertação de 1700 habitantes de Gaza, presos após os ataques do 7 de Outubro de 2023, e 250 prisioneiros condenados a prisão perpétua.

Trump promete a paz eterna no Médio Oriente. Será?
Sobre o futuro do território, Donald Trump afirmou que irá ser criado um “Conselho de Paz, que será responsável pela sua governação. Esse conselho, sem qualquer mandato internacional, será presidido pelo próprio presidente dos EUA e dele fará parte Tony Blair, ex-primeiro-ministo do Reino Unido e figura controversa na região desde a invasão do Iraque com base em provas forjadas.

Mas não é conhecida ainda uma reacção do Hamas, pelo que o sucesso do plano não está garantido. Em Israel, os dois ministros mais radicais do actual governo manifestaram as suas divergências e críticas pelo pedido de desculpas que Benjamin Netanyahu apresentou ao seu homólogo do Qatar, devido ao bombardeamento israelita a responsáveis do Hamas em Doha, no qual morreu um cidadão daquele país. O governo israelita vai sobreviver a esta proposta dos EUA?»


Texto de Amílcar Correi e Ruben Martins no Público

O TABACO DA VIDA

De amor cantando,
sem nele demasiado acreditar,
dei a volta ao coração (demorei anos):
está só – mas sem nenhuma vontade de parar…
 
Desiludidos? Paciência, amigos…
Bebamos mais, fumemos, refumemos,
entre as mulheres, o tabaco da vida.
Como cedilhas pendurados que felizes seremos,
 
exemplares cretinos nesta noite comprida…

 

Alexandre O’ Neill em No Reino da Dinamarca

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

À LUPA


«O que se passa é quantificável e reflete bem o que está em causa. De acordo com dados da empresa, há quatro concelhos sem pontos de venda de imprensa; cerca de duas dezenas só com um; 61% das freguesias, onde residem 19% do portuguesas não têm pontos de venda de jornais. Com exceção para a Grande Lisboa e Grande Porto, Setúbal, Coimbra e Braga, o resto do país tem rentabilidade negativa.

Sem leitura, aumenta a dependência das redes sociais como fonte primária de informação. Ora, sabemos bem como essas plataformas são terreno fértil para teorias da conspiração e manipulações. A ausência de informação profissional e verificada deixa o espaço público vulnerável.

Ler continua a ser um ato político, no sentido mais nobre do termo. Ler amplia horizontes, combate preconceitos e fortalece a cidadania. Mas para que isso seja possível é necessário que o Governo assuma a sua responsabilidade: garantir que a imprensa chega a todo o território, apoiar uma rede de distribuição que não pode ser deixada ao abandono, e reforçar políticas públicas que promovam a leitura desde cedo e ao longo da vida.»

Excertos do editorial de Valentina Marcelino no Diário de Notícias 23 de Setembro.

Legenda: pintura de Claude Monet.

OLHAR AS CAPAS

Lisboa, Capital do Coração

José Jorge Letria

Prefácio: Lagoa Henriques

Fotografias: Inácio Ludgero

Círculo de Leitores, Lisboa, Maio de 1994

Que nunca esmoreçam as sardinheiras no rosto limpo das fachadas destas casas que a luz coada da tarde convida para a sesta.

Atrás das cortinas brancas, rendilhadas, já houve partos, tragédias. Bodas e lutos, navalhas de ciúme a separarem amantes.

Andou por aqui o Cesário, talvez o Bocage, a paleta luminosa do Carlos Botelho, andámos nós a festejar os Santos e a ouvir, num queixume de fado, o desabafo dos marinheiros presos no cais. A cidade é ciosa dos seus segredos, dos seus mistérios, das suas mitigadas paixões. Não fala, mas é como se falasse. Mas canta, e quando canta é como se dissesse: «Cala, coração malferido, as tuas penas.»

SEMPRE CLAUDIA CARDINALE


«Não nasceu para o cinema, mas foi no grande ecrã que todos a conhecemos. Claudia Cardinale (1938-2025) foi uma das grandes estrelas do cinema do século XX e marcou para sempre quem com ela se deixou perder nos filmes de realizadores como Visconti, Fellini, Monicelli ou Zurlini, entre muitos outros grandes do cinema italiano (e não só). A estreia aos 20 anos em GANGSTERS FALHADOS foi auspiciosa e seguiram-se tantos e tantos títulos que uma breve nota não chegaria para falar ou descrever a forma como nos aparecia nas telas: do barroco viscontiniano (O LEOPARDO à cabeça) ao universo feliniano (a sua presença em OITO E MEIO é inesquecível para todos quantos a viram), passando pela rapariga da mala, protagonista de um dos mais famosos filmes de Zurlini. Assim como não é possível esquecer a sua chegada ao Velho Oeste na obra-prima de Sergio Leone ACONTECEU NO OESTE, a fabulosa aparição que faz no épico amazónico de Herzog FITZCARRALDO, a graciosidade com que entra num filme da máquina hollywoodiana como A PANTERA COR DE ROSA ou como entrou de rompante no universo de Oliveira em O GEBO E A SOMBRA, como se fizesse parte da família oliveiriana desde sempre.

Perdemos mais uma peça do imaginário popular do cinema europeu que aos poucos deixa de existir. Na data do seu falecimento, recordamos Claudia Cardinale na sua visita a Lisboa em novembro de 2001, quando esteve no Palácio Foz a apresentar uma sessão do ciclo de homenagem que a Cinemateca lhe dedicou nesse mesmo mês com uma galeria de fotos tiradas nessa ocasião.»

Lido em In Memorian Claudia Cardinale, Cinemateca

ESCREVO PARA ABRIR UM ESPAÇO MÓVEL

Escrevo para abrir um espaço móvel

para que em obscurecidas vias o sangue corra

para que devagar a surpresa liberte a página e o rosto

para que a substância ascenda à superfície em claras sílabas

Um rodopio de aves interpõe-se em claras sílabas

Há um perfume que turba o pensamento e o transforma em mãos fluidas

Imagino as sendas silenciosas as dálias o vislumbre

das grandes folhas de cristal aceso a uma canção marinha

Páginas, páginas, a turbulência das vagas, a minúcia

das veredas os insectos e as estrelas do mesmo ombro

de um muro As colheitas do acaso, os campos do abandono

Alguém está deitado sobre o círculo branco, alguém corre

na exaltação dos poros Os candeeiros acendem-se na noite

Que ébria melancolia nos rostos que se inclinam

para o clamor dos violinos e para as grandes quilhas

azuis Nada resta senão a leve cinza dos frutos

e alguns nomes frágeis sobre a mesa alguma areia

 

António Ramos Rosa de As Armas Imprecisas em Obra Poética Vol. II

domingo, 28 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


 O domingo está apenas nos meus olhos e é grande.

Eugénio de Andrade

Legenda: fotografia de Júlio Amorim

À LUPA


A crónica da Página Negra de Manuel S. Fonseca fala de tiros e mais tiros, que vão desde o tiro que matou um rei em Portugal, o tiro que matou Kennedy, alguns mais, mas o final da crónica é delicioso mais que suficiente para que A Lupa o não apanhasse:

«Podia falar do atentado a tiro contra Lenine. Mas não, falo da sua segunda morte. Havia um frequentador da Cinemateca, que era a pálida cara chapada do primeiro ditador soviético. Tão doce como pálido, viveria com uma sopa por dia e a pobreza de um Bartleby, um obsessivo amor pelo cinema. Chamávamos-lhe Lenine, e um dia, como alguém dirá de nós outro dia, olha, morreu. A Antónia, minha augusta mulher, entra a chorar no gabinete do João Bénard: «Morreu o Lenine.» O João, sabedor das inóspitas inclinações políticas da Antónia, espanta-se: «Ó Antónia, o Lenine já morreu há um século.» E logo a Antónia, em choro convulso: «Não é esse. Morreu o nosso Lenine.» Não há tiros no silêncio do cinema.»

NOTÍCIAS DO CIRCO

1.

«Nasceu mais um bebé numa ambulância neste domingo, dia 28 de setembro. A grávida, da Moita, ia com os bombeiros daquele concelho a caminho do Hospital Garcia de Orta, em Almada, devido ao fecho da urgência de obstetrícia do hospital do Barreiro.».

2.

«O Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) voltou a atingir, neste domingo, mais de 19h16m de espera até à primeira observação (tempo depois da triagem) para doentes pouco urgentes. A questão é que os doentes urgentes atingiram 14h13m de espera, segundo indicava o site dos tempos médios de espera do Serviço Nacional de Saúde (SNS) às 12:30. De acordo com o mesmo site, a esta hora o hospital tinha 57 doentes para serem vistos, 28 pouco urgentes e 21 urgentes. Ou seja, na manhã deste dia 28 de setembro, o Amadora-Sintra voltou a ser a unidade com maior número de doentes da região de Lisboa e Vale do Tejo na urgência geral para serem observados e com os tempos mais elevados de espera.»


Lido no Diário de Notícias de hoje.

CONVERSANDO


Marcelo Rebelo de Sousa terminará o seu mandato presidencial em Janeiro do próximo ano.

Este ano realizou a 8ª edição da Feira do Livro no Palácio de Belém.

Esteve para ser realizada nos dias de 4 a 7 de Setembro, mas a tragédia do Elevador da Glória, levou ao seu cancelamento e foi marcada  para esta semana  25 a 28 de Setembro.

Faltei às anteriores edições, por isto e por aquilo, o tempo decorrido não permite à metade do meu cérebro que ainda não está em branco, lembrar os porquês.

Este ano não faltaria mesmo, quem gosta de livros como eu, não deixaria de ir até Belém, inclusive, no final da visita, entrar nas longas filas, ali ao lado, para comer um Pastel de Belém.

Mas os deuses não quiseram nada com a cultura, e a Gabrielle resolveu estragar tudo.

Hoje, ainda olhei  o tempo lá, li que são permitidos os guarda-chuvas, mas não vi boas possibilidades, olhar, folhear livros debaixo de chuva e vento não é nada agradável!...

Os enormes lamentos, melancólicos e tristes, ficam comigo.

Contudo, Luís Marque Mendes, candidato à presidência , com um largo sorriso, disse aos jornalistas, que se for eleito presidente, manterá a organização da Festa do Livro nos jardins do Palácio de Belém.

Marques Mendes, por motivos óbvios, não é o meu candidato, mas se ele for à 2ª volta das eleições, contará, qual novo sapo a engolir, com o meu voto…

MÚSICA PELA MANHÃ

CARLOS DO CARMO

TECLA TES 6010

Capa: Victor Reis

 

Lado A

 

Ferro Velho

Aurora Boreal

Canção de Madrugar

Soneto XIV

Dizer que Sim à Vida

Amor Total

 

Lado B

 

Canoas do Tejo

Partir é Morrer um Pouco

O Fruto dá a Vida

Canção Grata

Não Digam ao Fado

Fado dos Sonhos


Orquestra dirigida por Jorge Costa Pinto

 

Numlivro da Biblioteca da Casa, que hoje por aqui se apresenta, fala-se de barcos e entre eles das fragatas que em tempos percorriam o Tejo.

Pretexto para lembrar uma das mais cantigas/fado (1972) do Carlos do Carmo: Canoas do Tejo, letra e música de Frederico de Brito.

 

Canoa de vela erguida
Que vens do Cais da Ribeira
Gaivota, que andas perdida
Sem encontrar companheira

O vento sopra nas fragas
O Sol parece um morango
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

 

Canoa
Conheces bem
Quando há norte pela proa
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem

Canoa
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa
Nunca mais voltas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais

 

Canoa de vela panda
Que vens da boca da barra
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra
Teu arrais prendeu a vela
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela
Não vá o mar acordá-lo

 

Colaboração de Aida Santos

O OUTRO LADO DAS ESTANTES

Embarcações Regionais da Tradição Portuguesa

Telmo Gomes

Edições Inapa, Lisboa, Fevereiro de 1997

Há a algum tempo que não visitamos O Outro Lado das Estantes.

Lindíssimo álbum, 33x25 cm, na Biblioteca da Casa está presente no Outro Lado das Estantes.

Algumas das embarcações regionais apresentadas no álbum:

Barquinho do Rio Minho

Barco Rabelo

Lancha Poveira

Barco moliceiro

Traineira de Peniche

Fragata do Tejo

Muleta do Seixal

Saveiro Meia-Lua da Costa da Caparica


Este álbum, em português e inglês, foi patrocinado pela Soponata, Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, SA foi uma empresa de navegação portuguesa.

«Foi fundada a 13 de junho de 1947 como uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada, com um capital social de 90.000.000 de escudos, repartido pelas 3 principais companhias de navegação e as 5 principais empresas petrolíferas em operação no país, à época.

Na década de 1950 com o crescimento económico do país, a par do encerramento do Canal do Suez por Nasser em 1956, a Soponata adquiriu um conjunto de navios novos, que pelos padrões da época eram verdadeiros gigantes, tais como o "Fogo" (27.000 dwt) e o "Hermínios" (40.000 dwt). Este último foi o primeiro navio-tanque construído pela Kawasaki a ser vendido a uma empresa de navegação europeia em 1960.

Depois de 1974 a Soponata foi nacionalizada. Com a privatização em 1993, retornou às mãos do seu antigo accionista principal, o Grupo José de Mello, que havia participado na sua fundação através das suas participações na Companhia Nacional de Navegação (CNN) e na Sociedade Geral de Indústria Comércio e Transportes, Lda.

A 26 de março de 2004 a Soponata foi vendida à empresa estadunidense General Maritime por 415 milhões de dólares. A venda foi assinada por José de Mello que semanas antes tinha sido um dos subscritores do "Manifesto dos 40" em que empresários alertavam o governo para a absoluta necessidade de Portugal conservar os seus centros de decisão em mãos nacionais»

Elementos tirados da Wikipédia

sábado, 27 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Um crítico do “El País” diz que daqui a cinco mil anos vou ser lido com paixão. Acho que ele tem razão.

António Lobo Antunes numa entrevista ao Expresso s/d 

DISTO, DAQULO E DAQUELOUTRO

Esta secção nasceu com o propósito de ser semanal, mas nunca conseguimos seguir esse propósito. Resta apresentar os necessários pedidos de desculpa.


De Donald Trump há que esperar tudo, mais alguma coisa  e ainda a procissão vai no adro.

Como um país, como a América, consegue colocar um louco a governá-lo, é algo que ultrapassa todos os limites da incompreensão, dizer ainda dos milhões de admiradores que ele tem pelo vasto mundo, do qual Portugal não escapa.

O discurso que Trump proferiu esta semana nas ONU, está repleto de ameaças e lá vieram os imigrantes -  «é tempo de acabar de com a experiência falhada das fronteiras abertas. Têm de acabar com isso agora. Posso dizer-vos que sou muito bom nestas coisas. Os vossos países vão para o inferno».

Mas o mais surpreendente foi  ouvi-lo lamentar-se de que em tempos, foi preterido como empreiteiro num concurso para a renovação do edifício das Nações Unidas.

1.

Os preços das casas em Portugal Continental subiram 21,6% em Agosto face a igual período do ano passado. Há quase 40 anos que não se verificava uma subida tão acentuada em Portugal.

 

2.

João Ferreira da CDU, apresenta-se como o mais bem preparado candidato à Câmara Municipal de Lisboa.

«Carlos Moedas e Alexandra Leitão, candidatos à Câmara Municipal de Lisboa estavam mesmo convencidos de que iam ser favas contadas. Quando já estava decretada a corrida a dois, um desastre: os confortáveis debates frente a frente, apenas um contra o outro (tão ao gosto dos nossos comentadores do espectáculo político), foram travados pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social , que repôs a justiça (e a lei) e forçou a comunicação social a incluir todas a forças políticas com vereadores eleitos na autarquia – sendo a CDU a única candidatura excluída.

Nem mesmo a opção absurda de incluir o Chega (sem que nenhum critério o justificasse) alterou o resultado dos dois primeiros debates (na SIC e no Observador): «Ferreira venceu. Moedas pouco melhor que Leitão», declarou o Observador («João Ferreira ganha de novo e Leitão perde para Moedas», repetiram dias mais tarde); «Com Moedas à defesa, João Ferreira impôs-se no debate de Lisboa e levou Alexandra Leitão ao prolongamento», concluiu o Expresso; o podcast da equipa de política do Público é peremptório no título escolhido – «A vitória de João Ferreira».

Lido em Abril, Abril

3. 

«Um genocídio na Palestina, guerra na Ucrânia, tensão nos EUA e entre os EUA e Venezuela, autárquicas à porta... mas a televisão pública dedica os primeiros 22 minutos do Jornal da Tarde à mudança de treinador no Benfica. E está a repetir a desgraça no Telejornal. Isto não é apenas doentio, é indecoroso. É a miséria em que estamos metidos».

Lido no blogue Antologia do Esquecimento

4.

Os dirigentes das principais universidades do país e dois dos mais prestigiados investigadores nacionais arrasam a extinção da Fundação para a Ciência e Tecnologia, a medida do governo é radical, não tem fundamento e compromete a ciência.

5.

«De acordo com dados da empresa, há quatro concelhos sem pontos de venda de imprensa; cerca de duas dezenas só com um; 61% das freguesias, onde residem 19% do portuguesas não têm pontos de venda de jornais. Com exceção para a Grande Lisboa e Grande Porto, Setúbal, Coimbra e Braga, o resto do país tem rentabilidade negativa.

Sem leitura, aumenta a dependência das redes sociais como fonte primária de informação. Ora, sabemos bem como essas plataformas são terreno fértil para teorias da conspiração e manipulações. A ausência de informação profissional e verificada deixa o espaço público vulnerável.

Ler continua a ser um ato político, no sentido mais nobre do termo. Ler amplia horizontes, combate preconceitos e fortalece a cidadania. Mas para que isso seja possível é necessário que o Governo assuma a sua responsabilidade: garantir que a imprensa chega a todo o território, apoiar uma rede de distribuição que não pode ser deixada ao abandono, e reforçar políticas públicas que promovam a leitura desde cedo e ao longo da vida.»

Do editorial de Valentina Marcelino no Diário de Notícias de 23 de Setembro

6.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, cada português desperdiça por ano 182,7 quilos de alimentos, e os dados de 2023 indicam que nesse ano desperdiçaram-se no país 1,9 milhões de toneladas de alimentos, sendo 66,8% desse desperdício atribuídos às famílias.

7.

Também uma frase do poeta e editor Paulo da Costa Domingos:

«É cada vez mais nos livros velhos que devemos buscar as verdades novas.»

NESTE DIA


Neste Dia, ou num outro qualquer, que no caso, é 23 de Abril de 1975, debruçamo-nos  em Relação de Bordo (1964-1988) diário de Cristóvão de Aguiar, escritor açoriano.

O autor está às voltas com as primeiras eleições do Portugal saído de Abril de 1974. Entre as muitas entidades que tentavam atrasar os caminhos da Liberdade, estava a Igreja. Sempre esteve activa nos tempos de Salazar e Caetano, mas continuava os caminhos da ignorância, da maldade, do desprezo, e, nestas andanças, nunca se poderá esquecer o sinistro cónego Melo:

MARCADORES DE LIVROS


 Colaboração de Aida Santos.

REOLHARES


 Só agora, fortuitamente, uma chatice, ultimamente tudo me acontece fortuitamente, dei conta que o Presidente da República atribuiu a Grã-Cruz da Ordem de Camões a António Lobo Antunes no 10 de Junho e entregue a Lobo Antunes a 1 de Setembro, dia do seu aniversário.
Segundo o jornalista João Céu e Silva, António Lobo Antunes deixou de escrever, de fumar (algo que para Lobo Antunes era como respirar), já não reconhece os seus próximos e perdeu a noção do mundo que o rodeia.
Voltar atrás, e reolhar este texto por aqui publicado no dia 5 de Maio de 2018:

«Em 2018, passam 20 anos sobre a atribuição a José Saramago do Prémio Nobel da Literatura.

Maria do Rosário Pedreira lembra no seu blogue Horas Extraordinárias:

«Há uns anos, pediam aos membros do P.E.N. uma sugestão de um autor português que devesse ser candidato ao Prémio Nobel, e o nome do escritor que colhesse mais «votos» era depois encaminhado para o P.E.N. Internacional que, suponho, teria voto na matéria e poderia propor nomeações. Eu puxei sempre a brasa à minha sardinha (de poeta) e indiquei, enquanto foi viva, Sophia de Mello Breyner e, depois, embora soubesse que provavelmente o recusaria, Herberto.»

Miguel Torga será o escritor português que mais vezes foi, pelos seus pares, indicado para o Prémio Nobel da Literatura.

Passou despercebida a notícia de que a Academia Sueca pediu formalmente à Academia das Ciências de Lisboa a indicação de um candidato ao próximo Prémio Nobel da Literatura:

«Em nome da Academia Sueca temos a honra de vos convidar a nomear, por escrito, um candidato (ou candidatos) ao Prémio Nobel da Literatura para o ano de 2018.

Os membros da Classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa indicaram os nomes de Manuel Alegre, o mais votado, e Agustina Bessa-Luís.

Provavelmente, António Lobo Antunes, o eterno candidato português, não terá apreciado o gesto dos membros da Academia.

Mas tudo foi em vão.

Soube-se, hoje, que este ano não haverá Nobel da Literatura.

A Academia Sueca ficou sem quórum depois da última demissão e, por esse motivo, o prémio não pode ser atribuído. O impasse resulta do facto de, embora demissionários, os membros da Academia não poderem ser substituídos enquanto forem vivos.

Tudo começou em Novembro do ano passado, com o escândalo que envolve o fotógrafo Jean-Claude Arnault, marido da poeta Katarina Frostenson, um dos membros mais proeminentes da Academia: Arnault é acusado de assédio sexual por dezoito mulheres, mas, indiferente à controvérsia, Katarina Frostenson só se demitiu há poucas semanas.

Trata-se da primeira vez que, em tempo de paz, o prémio não é atribuído.

O Nobel da Literatura foi, tal como os das restantes categorias, sete vezes não atribuído durante as guerras mundiais do século passado mas nunca por outros motivos.

Questionado pelo Diário de Notícias pela não atribuição do Nobel da Literatura, António Lobo Antunes reagiu assim:

 «O assunto Nobel não me interessa.»

MÚSICA PELA MANHÃ


 Fala de Cheyenne para Jill McBain:


- Sabes que mais? Se eu fosse a ti, ia ali dar de beber aos rapazes. Nem podes imaginar como um homem se alegra por ver uma mulher como tu. Só de olhar para ela. E se um deles te der uma palmada no rabo… faz de conta que não foi nada. Ganharam o direito a isso.


O OUTRO LADO DAS CAPAS

À Mesa Com A Históriaé um livro, póstumo, do meu querido amigo Dr. Manuel Guimarães (1938-1997).
No prefácio Carlos Consiglieri lembra-o como autor e realizador do programa da televisão “Vamos Jogar no Totobola”, desde 1990 a 1993, das crónicas publicadas no “Correio da Manhã”, no “Diário de Notícias”, ou na “Capital”, onde manteve uma página semanal de gastronomia.

«Poucos são os homens de cultura que neste país abordam na escrita temas de gastronomia.

Intelectuais comilões conhecemos alguns, mas que não sabem nada acerca, não apenas dos manjares portugueses mas também, da história, por vezes pícara ligada, que se encontra ligada a comidas e bebidas.»

Colaboração de Aida Santos

OLHAR AS CAPAS


À Mesa Com a História

Manuel Guimarães

Prefácio: Carlos Consiglieri

Capa: Sarah Goes

Colares Editora, Sintra, Maio de 2001

Também já não há malgas de marmelada nos Outonos das nossas cidades. A vida moderna encarrega-se de destruir, no espaço de duas ou três décadas, uma assistência familiar personalizada, assente na figura da “Mãe” que, entre outras coisas, garantia uma alimentação diferente em cada casa de família.
Os mais velhos recordam, por certo, os comeres da infância. Aqueles dias perfumados de fazer marmelada. A cor, a transparência e o mistério da gelei que os mais pequenos perguntavam, intrigados, donde vinha e como era possível.
Mas tudo isso se foi, num ápice, na voragem da industrialização.
E nem por isso somos mais felizes.

Colaboração de Aida Santos

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

SEM VIDA E SEM APELIDO

«No dia em que nasci, não chorei. Por isso puseram-me de lado, como uma encomenda de 2, 670 quilos sem franquia e sem nome e sem nome de destinatário, o tempo de preencherem a papelada administrativa para me declarem partida antes de ter chegado.

Nada-morta. Criança sem vida e sem apelido

A parteira teve de me dar um nome à pressa para preencher os campos em branco, escolheu Violette.

Imagino que eu estaria violácea da cabeça aos pés.»

Valérie Perrin em A Breve Vida das Flores

OLHAR AS CAPAS


A Tempestade

William Shakespeare

Tradução: João Grave

Capa: Luís Filipe Cunha

Expo 98, Julho de 1996

Ensinaste-me a falar e o único proveito que daí retiro é o de saber amaldiçoara. Que a peste rubra vos devore, por me haverdes ensinado a vossa linguagem!

NÃO TE OFEREÇO POEMAS DE VITÓRIA

Não te ofereço poemas de vitória:

os meus versos só falam do que existe.

Não contarei a esperança:

só a força que contra tudo subsiste.

 

Não teço os meus poemas de futuro:

corto-os nesta carne que somos.

Se vives de sonhar

eu vivo de viver ─ e é mais duro!

Adolfo Casais Monteiro

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Depois de matar Frank, o homem da harmónica entra em casa, e Jill McBaine sorri para ele.

Sergio Leone, implacável de ternura, fixa-lhe a expressão dos olhos, enquanto, em fundo, se ouve a música de Enio Morricone.

- Espero que um dia voltes, diz ela.

- Um dia, diz ele.

À LUPA


Por vezes, os comentários dos leitores às notícias e artigos de opinião do Público, são desastrosos, deselegantes, ordinários, outros são interessantes e, algumas vezes, para aqui os trago.

Como este dum leitor da notícia  de Vasco Câmara sobre a morte  de Claudia Cardinale:

« Esta notícia não devia acontecer...e a acontecer não devia ser dada...há pessoas imortais...»

SÍTIOS POR ONDE ELES ANDARAM

Parede.

Colaboração de Aida Santos

OLHAR AS CAPAS


Estórias Alentejanas

Urbano Tavares Rodrigues

Capa: José Araújo

Editorial Caminho, Lisboa, Agosto de 1977

Agora o que é bem certo é que o prazer da escrita tenho-o conhecido sobretudo ao evocar, ao reinventar, ao escrever o Alentejo, o que pode parecer paradoxal, já que algumas destas histórias são negras, dramáticas como o destino do povo junto ao qual cresci e com quem abri os olhos para a vida.

FLORES NOCTURNAS

Ouviste ontem à noite
a cadência misteriosa,
outra vez o trabalho
daquela costureira sem idade.
Os pés descalços sobre o pedal,
os braços colados ao pano, frios
e brancos, não têm carne
que possa ferir-se por
acaso ou falta de vista.
Mora dentro das paredes,
edifícios com mais de quinze anos,
e escolheu aqueles
a quem embala e atormenta o sono.

Os pontos regulares, na tua cabeça,
fixam sardinheiras frescas sobre
chitas desmaiadas pela luz do dia
que chagará daqui a nada.

Fernanda Ferra em Curso Intensivo de Jardinagem

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Há vestidos tão belos, que dá vontade de os dilacerar.

Cesare Pavese em Ofício de Viver

Legenda; Claudia Cardinale em Once Upon a Time in the West

À LUPA

«No jornal, uma imagem do Presidente norte-americano e do rei de Inglaterra a passearem, num coche barroco, pelos jardins de Windsor. Não consigo imaginar um conto de fadas mais grotesco».

Rui Manuel Amaral no Bicho Ruim

TRUMPALHADAS


Donald Trump, em cada dia que passa, revela a sua perigosidade contra o mundo, principalmente a Europa.

É também um enorme perigo para os Estados Unidos, disposto a transformar o país numa ditadura.

Mas quem o poderá parar?

«Trump condena reconhecimento da Palestina e anuncia a “morte da Europa Ocidental.

Presidente dos EUA discursou na Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde até se queixou de não ter ganhado a empreitada para renovar a sede da organização, e exortou a Europa a travar a imigração.»

O OUTRO LADO DAS CAPAS


 
No dia 7 de Agosto de 1945 Miguel Torga, escrevia, no seu Diário:
«A primeira bomba atómica. Que maravilhoso bicho, o homem! Teimou, teimou, e descobriu a pedra filosofal.»

As composições incluídas neste livro foram escritas por crianças e adolescentes, seis anos depois de 6 de Agosto de 1945,e escolhidas de entre mais de duas mil.


Hiroaki Ichikawa, rapaz, 6 anos em 1945: “A Mãe está sempre a dizer: “Enquanto vivermos, jamais esqueceremos aquele terrível experiência, não é verdade?”

Ikuko Wakasa, rapariga, 5 anos em 1945: “Realmente, detesto pensar acerca da guerra e detesto recordar-me do dia em que a bomba atómica caiu. Mesmo quando leio livros passo por alto as partes sobre a guerra. Uma vez que me destinaram isto para trabalho de casa, e embora não queira fazê-lo, tento, com esforço, recordar-me daquele momento terrível.”

Kiyoko Tsumiga, rapariga, 5 anos em 1945: “Quando ouço a palavra bomba atómica, penso: “Ah! Tenho esperança de que aquilo nunca mais tornará a acontecer!”

Keiko Sasaki, rapariga, 6 anos em 1945: “Quando penso que, se não fosse aquela pavorosa bomba atómica, podíamos viver felizes juntos, odeio o exército americano. Mas, depois, digo para mim mesma: “Bem já passou tudo, perdoo-lhes”, e o meu coração brilha.”

Shigeru Tasaka, rapaz, 6 anos em 1945: “Todos no mundo pronunciam a palavra: “Paz, “Paz”, mas não se devem esquecer que cerca de 247 000 pessoas de Hiroxima foram as últimas e as maiores sacrificadas da Segunda Guerra Mundial.”

OLHAR AS CAPAS


Testemunhos dos Jovens de Hiroxima

Prefácio de Bertrand Russell

Tradução: H. Silva Letra

Capa: João da Câmara Leme

Colecção Documentos Humanos nº 13

Portugália Editora, Lisboa, Maio de 1965

O meu irmão, que tinha então cinco anos, dizia sem cessar que iria ser almirante da marinha, mas detesto a guerra porque, vença-se ou seja vencido, muitas e muitas pessoas morrem e muitas casas e dinheiro são queimados e se perdem buscamente.

Masako Ohta

REOLHARES


 

NINGUÉM PODE RESISTIR À TUA BELEZA


Claudia Cardinale, quando fez 70 anos,  hoje está com uns radiosos 76 anos, apagadas as velas, nas palavras de agradecimento, disse: nada de plásticas porque cada idade tem a sua beleza.

CC, tal como a conhecíamos em contra ponto a BB, francesa que também foi espanto dos olhos de muitos adolescentes, menor actriz que Cardinale, para além de outros inconvenientes, como se ter dedicado à protecção de animais quando, dizem, nunca cuidou do próprio filho e ainda por cima vota em Jean-Marie le Pen.

Deixe-se em paz a BB e voltemo-nos para CC.                                   

Burt Lancaster, no papel do Príncipe Salina,  em O Leopardo de Visconti:

«Deves tudo a ti mesmo. Ninguém pode resistir à tua beleza.»

Jorge Silva Melo, num inquérito do suplemento Gente do Diário de Notícias, quando lhe pediram o nome de uma mulher bonita, nem pestanejou:

 - Claudia Cardinale.

E, para que não restassem quaisquer dúvidas, acrescentou:

«Luminosa. A luminosidade interior dela como os modelos de Raffaello. Não são os projectores que a iluminam. A luz emana dela. Talento tem com certeza, mas o sorriso nunca é objecto de talento. Vem de dentro. E aquele sorriso é único.»

Claudia Cardinale foi uma aparição tardia para João Bénard da Costa e tem direito a quatro páginas no seu Muito Lá de Casa e dá para, a propósito, ou o seu contrário, citar Jorge de Sena:

«não é senão o libertar do encanto que foste ao longe,à luz do mar aceso.»

E conclui:

«É essa luz, que tantos ficaram presos os anos 60 e 70.»

Tão simples como isto.

 

(Texto publicado em 8 de Novembro de 2014).

CLAUDIA CARDINALE (1938-2025)

Morreu Claudia Cardinale.

Tinha 87 anos.

«Todos tivemos uma paixão por Cláudia Cardinale. Efectivamente, resulta impossível ficar indiferente a esta actriz. Com a sua entrada em cena, esquecemos tudo o resto e o nosso ritmo cardíaco sobe.»

John Carpenter

PEQUENA ELEGIA CHAMADA DOMINGO

O domingo era uma coisa pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.

Hoje os montes e os rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios…)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.

Eugénio de Andrade de As Mãos e os Frutos em Poemas

terça-feira, 23 de setembro de 2025

OLHAR AS CAPAS


A Sociedade Humana na Ética e na Política

Bertrand Russell

Tradução: Oswaldo de Araújo Souza

Companhia Editora Nacional, São Pulo, 1956

O homem, como diziam os órficos, é filho da terra e do céu estrelado ou, em linguagem mais atual, uma combinação de deus e fera. Há os que cerram seus olhos à fera e os que fecham para o deus. É muito fácil fazer um retrato do homem apenas como fera.

QUOTIDIANOS


Ninguém Escreveao Coronel… mas a caixa do correio vai-se enchendo de facturas para pagar – velho que sou nunca aderi a Débitos Directos… - publicidades várias… e estarão para chegar os apelos a votos nas eleições autárquicas… e hoje, algo para resolver o problema da habitação… dado que o governo declarou que o Luís não tempo para tudo… 

NESTE DIA


Neste Dia, ou num outro qualquer, que no caso, é 2 de Dezembro de 1994, José Saramago, no 2º volume dos seus Cadernos de Lanzarote, está à volta com a Europa, ele que sempre disse: «Sou um europeu céptico que aprendeu todo o seu cepticismo com uma professora chamada Europa», ou «Um futuro que não passa, com certeza, pela CRR. Nada temos a ver com a Europa.».

TRUMPALHADAS

A pergunta que o jornalista Amílcar Correia faz hoje no Público:

«Posso ser despedido por este texto?»
«Há duas coisas das quais Donald Trump seguramente não gosta: que o critiquem e que façam piadas à sua custa. No primeiro mandato, já tínhamos assistido a todo o tipo de ataques ao jornalismo, e à sua função de escrutínio, na tentativa de o descredibilizar. A qualidade do jornalismo depende da qualidade da democracia, mas o Presidente dos EUA está mais empenhado em destruir ambas do que em as fortalecer. E não vai parar.»

À LUPA

«Portugal tem segunda banca mais rentável da zona euro.

O primeiro semestre do ano continuou a ser de lucros recorde para alguns dos principais bancos portugueses e isso reflectiu-se na posição relativa que o sector bancário nacional apresenta no total da zona euro: é o segundo mais rentável da região. Um ano antes era o quinto.»

No Público de hoje.

MEMÓRIA DE MEU BEM

Memória de meu bem, cortado em flores
por ordem de meus tristes e maus Fados,
deixai-me descansar com meus cuidados
nesta inquietação de meus amores.

Basta-me o mal presente e os temores
dos sucessos, que espero, infortunados;
sem que venham, de novo, bens passados
afrontar meu repouso com suas dores.

Perdi nüa hora quanto em termos
tão vagarosos e largos alcancei;
leixai-me, pois, lembranças desta glória.

Cumpre acabe a vida nestes ermos,
que neles com meu mal acabarei
mil vidas, não ua só, dura memória!

 

Luís de Camões

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


Um silêncio ainda claro, de imenso repouso, tão doce como se descesse do Céu, cobria a largueza povoada dos campos, onde não se movia uma folha, na macia transparência do ar de Setembro. Os fumos das lareiras acesas já se escapavam, lentos e leves, de entre a telha rala.

Eça de Queiroz em A Ilustre Casa de Ramires

OLHAR AS CAPAS


 Suor

Jorge Amado

Capa: Luís Duran

Livros Unibolso nº 100

Editores Associados, Lisboa s/d

Largou o violino em cima da cama. O caderno de sambas caiu no chão, dobrando as folhas. Ele não se moveu. Que lhe importava? Chegou ao buraco do quarto e ficou olhando os telhados negros da cidade anciã. As ladeiras eram os braços da cidade esticados para o céu.