Narrar é a última forma
de contrariar o fim.
Lídia
Jorge
Legenda:
Italo Calvino, fotografia de Sebastião Salgado
Narrar é a última forma
de contrariar o fim.
Lídia
Jorge
Legenda:
Italo Calvino, fotografia de Sebastião Salgado
Este é um desses documentos.
Com imensa pena, obrigo-me a dizer que não acredito em nada do que esta gente tem face à guerra na faixa de Gaza.
Lamento
mesmo muito!
«Donald Trump prometeu ontem, em
Washington, a paz eterna para o Médio Oriente. Com Benjamin Netanyahu ao seu
lado, o presidente dos EUA apresentou algumas das 20 medidas que farão parte de
um plano de paz para terminar com a guerra na Faixa de Gaza.
O plano prevê a libertação de todos reféns israelitas (vivos ou mortos) e a
libertação de 1700 habitantes de Gaza, presos após os ataques do 7 de Outubro
de 2023, e 250 prisioneiros condenados a prisão perpétua.
De amor cantando,
sem nele demasiado acreditar,
dei a volta ao coração (demorei anos):
está só – mas sem nenhuma vontade de parar…
Desiludidos? Paciência, amigos…
Bebamos mais, fumemos, refumemos,
entre as mulheres, o tabaco da vida.
Como cedilhas pendurados que felizes seremos,
exemplares cretinos nesta noite comprida…
Alexandre O’ Neill em No Reino da Dinamarca
Sem leitura, aumenta a
dependência das redes sociais como fonte primária de informação. Ora, sabemos
bem como essas plataformas são terreno fértil para teorias da conspiração e
manipulações. A ausência de informação profissional e verificada deixa o espaço
público vulnerável.
Ler continua a ser um
ato político, no sentido mais nobre do termo. Ler amplia horizontes, combate
preconceitos e fortalece a cidadania. Mas para que isso seja possível é
necessário que o Governo assuma a sua responsabilidade: garantir que a imprensa
chega a todo o território, apoiar uma rede de distribuição que não pode ser
deixada ao abandono, e reforçar políticas públicas que promovam a leitura desde
cedo e ao longo da vida.»
Excertos
do editorial de Valentina Marcelino no Diário de Notícias 23 de Setembro.
Legenda:
pintura de Claude Monet.
Lisboa, Capital do Coração
José Jorge
Letria
Prefácio: Lagoa
Henriques
Fotografias:
Inácio Ludgero
Círculo de
Leitores, Lisboa, Maio de 1994
Que nunca esmoreçam as sardinheiras no rosto limpo das
fachadas destas casas que a luz coada da tarde convida para a sesta.
Atrás das cortinas brancas, rendilhadas, já houve
partos, tragédias. Bodas e lutos, navalhas de ciúme a separarem amantes.
Andou por aqui o Cesário, talvez o Bocage, a paleta
luminosa do Carlos Botelho, andámos nós a festejar os Santos e a ouvir, num
queixume de fado, o desabafo dos marinheiros presos no cais. A cidade é ciosa
dos seus segredos, dos seus mistérios, das suas mitigadas paixões. Não fala,
mas é como se falasse. Mas canta, e quando canta é como se dissesse: «Cala, coração
malferido, as tuas penas.»
Perdemos mais uma peça
do imaginário popular do cinema europeu que aos poucos deixa de existir. Na
data do seu falecimento, recordamos Claudia Cardinale na sua visita a Lisboa em
novembro de 2001, quando esteve no Palácio Foz a apresentar uma sessão do ciclo
de homenagem que a Cinemateca lhe dedicou nesse mesmo mês com uma galeria de
fotos tiradas nessa ocasião.»
Escrevo para abrir um espaço móvel
para que em obscurecidas vias o sangue corra
para que devagar a surpresa liberte a página e o rosto
para que a substância ascenda à superfície em claras
sílabas
Um rodopio de aves interpõe-se em claras sílabas
Há um perfume que turba o pensamento e o transforma em
mãos fluidas
Imagino as sendas silenciosas as dálias o vislumbre
das grandes folhas de cristal aceso a uma canção
marinha
Páginas, páginas, a turbulência das vagas, a minúcia
das veredas os insectos e as estrelas do mesmo ombro
de um muro As colheitas do acaso, os campos do abandono
Alguém está deitado sobre o círculo branco, alguém
corre
na exaltação dos poros Os candeeiros acendem-se na
noite
Que ébria melancolia nos rostos que se inclinam
para o clamor dos violinos e para as grandes quilhas
azuis Nada resta senão a leve cinza dos frutos
e alguns nomes frágeis sobre a mesa alguma areia
António Ramos
Rosa de As Armas Imprecisas em Obra Poética Vol. II
Eugénio
de Andrade
A crónica da Página Negra de Manuel S. Fonseca fala de
tiros e mais tiros, que vão desde o tiro que matou um rei em Portugal, o tiro
que matou Kennedy, alguns mais, mas o final da crónica é delicioso mais que
suficiente para que A Lupa o não apanhasse:
«Podia falar do atentado a tiro contra Lenine. Mas não, falo da sua segunda morte. Havia um frequentador da Cinemateca, que era a pálida cara chapada do primeiro ditador soviético. Tão doce como pálido, viveria com uma sopa por dia e a pobreza de um Bartleby, um obsessivo amor pelo cinema. Chamávamos-lhe Lenine, e um dia, como alguém dirá de nós outro dia, olha, morreu. A Antónia, minha augusta mulher, entra a chorar no gabinete do João Bénard: «Morreu o Lenine.» O João, sabedor das inóspitas inclinações políticas da Antónia, espanta-se: «Ó Antónia, o Lenine já morreu há um século.» E logo a Antónia, em choro convulso: «Não é esse. Morreu o nosso Lenine.» Não há tiros no silêncio do cinema.»
1.
«Nasceu
mais um bebé numa ambulância neste domingo, dia 28 de setembro. A grávida, da
Moita, ia com os bombeiros daquele concelho a caminho do Hospital Garcia de
Orta, em Almada, devido ao fecho da urgência de obstetrícia do hospital do
Barreiro.».
2.
«O
Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) voltou a atingir, neste domingo,
mais de 19h16m de espera até à primeira observação (tempo depois da triagem)
para doentes pouco urgentes. A questão é que os doentes urgentes atingiram
14h13m de espera, segundo indicava o site dos tempos médios de espera do
Serviço Nacional de Saúde (SNS) às 12:30. De acordo com o mesmo site, a esta
hora o hospital tinha 57 doentes para serem vistos, 28 pouco urgentes e 21
urgentes. Ou seja, na manhã deste dia 28 de setembro, o Amadora-Sintra voltou a
ser a unidade com maior número de doentes da região de Lisboa e Vale do Tejo na
urgência geral para serem observados e com os tempos mais elevados de espera.»
Lido no Diário de Notícias de hoje.
Este
ano realizou a 8ª edição da Feira do Livro no Palácio de Belém.
Esteve
para ser realizada nos dias de 4 a 7 de Setembro, mas a tragédia do Elevador da
Glória, levou ao seu cancelamento e foi marcada para esta semana 25 a 28 de
Setembro.
Faltei
às anteriores edições, por isto e por aquilo, o tempo decorrido não permite à
metade do meu cérebro que ainda não está em branco, lembrar os porquês.
Este
ano não faltaria mesmo, quem gosta de livros como eu, não deixaria de ir até
Belém, inclusive, no final da visita, entrar nas longas filas, ali ao lado,
para comer um Pastel de Belém.
Mas
os deuses não quiseram nada com a cultura, e a Gabrielle resolveu estragar
tudo.
Hoje,
ainda olhei o tempo lá, li que são
permitidos os guarda-chuvas, mas não vi boas possibilidades, olhar, folhear
livros debaixo de chuva e vento não é nada agradável!...
Os
enormes lamentos, melancólicos e tristes, ficam comigo.
Contudo,
Luís Marque Mendes, candidato à presidência , com um largo sorriso, disse aos
jornalistas, que se for eleito presidente, manterá a organização da Festa do
Livro nos jardins do Palácio de Belém.
Marques Mendes, por motivos óbvios, não é o meu candidato, mas se ele for à 2ª volta das eleições, contará, qual novo sapo a engolir, com o meu voto…
CARLOS
DO CARMO
TECLA
TES 6010
Capa:
Victor Reis
Lado
A
Ferro
Velho
Aurora
Boreal
Canção
de Madrugar
Soneto
XIV
Dizer
que Sim à Vida
Amor
Total
Lado
B
Canoas
do Tejo
Partir
é Morrer um Pouco
O
Fruto dá a Vida
Canção
Grata
Não
Digam ao Fado
Fado dos Sonhos
Orquestra
dirigida por Jorge Costa Pinto
Numlivro da Biblioteca da Casa, que hoje por aqui se apresenta, fala-se de barcos
e entre eles das fragatas que em tempos percorriam o Tejo.
Pretexto
para lembrar uma das mais cantigas/fado (1972) do Carlos do Carmo: Canoas do
Tejo, letra e música de Frederico de Brito.
Canoa de vela erguida
Que vens do Cais da Ribeira
Gaivota, que andas perdida
Sem encontrar companheira
O vento sopra nas
fragas
O Sol parece um morango
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango
Canoa
Conheces bem
Quando há norte pela proa
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem
Canoa
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa
Nunca mais voltas ao cais
Nunca, nunca, nunca mais
Canoa de vela panda
Que vens da boca da barra
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra
Teu arrais prendeu a vela
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela
Não vá o mar acordá-lo
Colaboração
de Aida Santos
Embarcações Regionais
da Tradição Portuguesa
Telmo
Gomes
Edições
Inapa, Lisboa, Fevereiro de 1997
Há
a algum tempo que não visitamos O Outro Lado das Estantes.
Lindíssimo
álbum, 33x25 cm, na Biblioteca da Casa está presente no Outro Lado das
Estantes.
Algumas
das embarcações regionais apresentadas no álbum:
Barquinho
do Rio Minho
Barco
Rabelo
Lancha
Poveira
Barco
moliceiro
Traineira
de Peniche
Fragata
do Tejo
Muleta
do Seixal
Saveiro
Meia-Lua da Costa da Caparica
Este
álbum, em português e inglês, foi patrocinado pela Soponata, Sociedade
Portuguesa de Navios Tanques, SA foi uma empresa de navegação portuguesa.
«Foi fundada a 13
de junho de 1947 como uma sociedade por quotas de
responsabilidade limitada, com um capital social de 90.000.000 de escudos,
repartido pelas 3 principais companhias de navegação e as 5 principais empresas
petrolíferas em operação no país, à época.
Na década de 1950 com
o crescimento económico do país, a par do encerramento do Canal do Suez por Nasser em
1956, a Soponata adquiriu um conjunto de navios novos, que pelos padrões da
época eram verdadeiros gigantes, tais como o "Fogo" (27.000 dwt) e o
"Hermínios" (40.000 dwt). Este último foi o primeiro navio-tanque construído
pela Kawasaki a ser vendido a uma empresa de navegação europeia
em 1960.
Depois de 1974 a
Soponata foi nacionalizada. Com a privatização em 1993, retornou às mãos
do seu antigo accionista principal, o Grupo José de Mello, que havia
participado na sua fundação através das suas participações na Companhia
Nacional de Navegação (CNN) e na Sociedade Geral de Indústria
Comércio e Transportes, Lda.
A 26 de março de 2004 a
Soponata foi vendida à empresa estadunidense General Maritime por 415 milhões
de dólares. A venda foi assinada por José de Mello que semanas antes tinha sido
um dos subscritores do "Manifesto dos 40" em que empresários alertavam
o governo para a absoluta necessidade de Portugal conservar os seus centros de
decisão em mãos nacionais»
Elementos tirados da Wikipédia
Um crítico do “El País”
diz que daqui a cinco mil anos vou ser lido com paixão. Acho que ele tem razão.
António
Lobo Antunes numa entrevista ao Expresso s/d
Esta secção nasceu com o propósito de ser semanal, mas nunca conseguimos seguir esse propósito. Resta apresentar os necessários pedidos de desculpa.
De
Donald Trump há que esperar tudo, mais alguma coisa e ainda a procissão vai no adro.
Como
um país, como a América, consegue colocar um louco a governá-lo, é algo que
ultrapassa todos os limites da incompreensão, dizer ainda dos milhões de
admiradores que ele tem pelo vasto mundo, do qual Portugal não escapa.
O
discurso que Trump proferiu esta semana nas ONU, está repleto de ameaças e lá
vieram os imigrantes - «é tempo de
acabar de com a experiência falhada das fronteiras abertas. Têm de acabar com
isso agora. Posso dizer-vos que sou muito bom nestas coisas. Os vossos países
vão para o inferno».
Mas
o mais surpreendente foi ouvi-lo
lamentar-se de que em tempos, foi preterido como empreiteiro num concurso para
a renovação do edifício das Nações Unidas.
1.
Os preços das
casas em Portugal Continental subiram 21,6% em Agosto face a igual período do
ano passado. Há quase 40 anos que não se verificava uma subida tão acentuada em
Portugal.
2.
João Ferreira da
CDU, apresenta-se como o mais bem preparado candidato à Câmara Municipal de
Lisboa.
«Carlos Moedas e Alexandra Leitão, candidatos à Câmara
Municipal de Lisboa estavam mesmo convencidos de que iam ser favas
contadas. Quando já estava decretada a corrida a dois, um desastre:
os confortáveis debates frente a frente, apenas um contra o outro (tão ao gosto
dos nossos comentadores do espectáculo político), foram travados
pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social , que repôs a
justiça (e a lei) e forçou a comunicação social a incluir todas
a forças políticas com vereadores eleitos na autarquia – sendo a CDU
a única candidatura excluída.
Nem mesmo a opção absurda de incluir o Chega (sem que nenhum critério o justificasse) alterou o resultado dos dois primeiros debates (na SIC e no Observador): «Ferreira venceu. Moedas pouco melhor que Leitão», declarou o Observador («João Ferreira ganha de novo e Leitão perde para Moedas», repetiram dias mais tarde); «Com Moedas à defesa, João Ferreira impôs-se no debate de Lisboa e levou Alexandra Leitão ao prolongamento», concluiu o Expresso; o podcast da equipa de política do Público é peremptório no título escolhido – «A vitória de João Ferreira».
Lido em Abril,
Abril
3.
«Um genocídio na Palestina, guerra na Ucrânia, tensão
nos EUA e entre os EUA e Venezuela, autárquicas à porta... mas a televisão pública
dedica os primeiros 22 minutos do Jornal da Tarde à mudança de treinador no
Benfica. E está a repetir a desgraça no Telejornal. Isto não é apenas doentio,
é indecoroso. É a miséria em que estamos metidos».
Lido no blogue Antologia do Esquecimento
4.
Os dirigentes
das principais universidades do país e dois dos mais prestigiados investigadores
nacionais arrasam a extinção da Fundação para a Ciência e Tecnologia, a medida
do governo é radical, não tem fundamento e compromete a ciência.
5.
«De acordo com dados da empresa, há quatro concelhos
sem pontos de venda de imprensa; cerca de duas dezenas só com um; 61% das
freguesias, onde residem 19% do portuguesas não têm pontos de venda de jornais.
Com exceção para a Grande Lisboa e Grande Porto, Setúbal, Coimbra e Braga, o
resto do país tem rentabilidade negativa.
Sem leitura, aumenta a dependência das redes sociais
como fonte primária de informação. Ora, sabemos bem como essas plataformas são
terreno fértil para teorias da conspiração e manipulações. A ausência de
informação profissional e verificada deixa o espaço público vulnerável.
Ler continua a ser um ato político, no sentido mais nobre do termo. Ler amplia horizontes, combate preconceitos e fortalece a cidadania. Mas para que isso seja possível é necessário que o Governo assuma a sua responsabilidade: garantir que a imprensa chega a todo o território, apoiar uma rede de distribuição que não pode ser deixada ao abandono, e reforçar políticas públicas que promovam a leitura desde cedo e ao longo da vida.»
Do editorial de
Valentina Marcelino no Diário de Notícias de 23 de Setembro
6.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, cada português desperdiça por ano 182,7 quilos de alimentos, e os dados de 2023 indicam que nesse ano desperdiçaram-se no país 1,9 milhões de toneladas de alimentos, sendo 66,8% desse desperdício atribuídos às famílias.
7.
Também uma frase do poeta e editor Paulo da Costa Domingos:
«É cada vez mais nos livros velhos que devemos buscar
as verdades novas.»
O
autor está às voltas com as primeiras eleições do Portugal saído de
Abril de 1974. Entre as muitas entidades que tentavam atrasar os caminhos da
Liberdade, estava a Igreja. Sempre esteve activa nos tempos de Salazar e Caetano, mas continuava os caminhos da ignorância, da maldade, do desprezo, e, nestas andanças, nunca se poderá
esquecer o sinistro cónego Melo:
«Em 2018, passam 20 anos sobre a atribuição a José Saramago do Prémio Nobel da Literatura.
Maria do Rosário Pedreira lembra no seu blogue Horas Extraordinárias:
«Há uns anos, pediam aos membros do P.E.N. uma sugestão de um autor português que devesse ser candidato ao Prémio Nobel, e o nome do escritor que colhesse mais «votos» era depois encaminhado para o P.E.N. Internacional que, suponho, teria voto na matéria e poderia propor nomeações. Eu puxei sempre a brasa à minha sardinha (de poeta) e indiquei, enquanto foi viva, Sophia de Mello Breyner e, depois, embora soubesse que provavelmente o recusaria, Herberto.»
Miguel Torga será o escritor português que mais vezes foi, pelos seus pares, indicado para o Prémio Nobel da Literatura.
Passou despercebida a notícia de que a Academia Sueca pediu formalmente à Academia das Ciências de Lisboa a indicação de um candidato ao próximo Prémio Nobel da Literatura:
«Em nome da Academia Sueca temos a honra de vos convidar a nomear, por escrito, um candidato (ou candidatos) ao Prémio Nobel da Literatura para o ano de 2018.
Os membros da Classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa indicaram os nomes de Manuel Alegre, o mais votado, e Agustina Bessa-Luís.
Provavelmente, António Lobo Antunes, o eterno candidato português, não terá apreciado o gesto dos membros da Academia.
Mas tudo foi em vão.
Soube-se, hoje, que este ano não haverá Nobel da Literatura.
A Academia Sueca ficou sem quórum depois da última demissão e, por esse motivo, o prémio não pode ser atribuído. O impasse resulta do facto de, embora demissionários, os membros da Academia não poderem ser substituídos enquanto forem vivos.
Tudo começou em Novembro do ano passado, com o escândalo que envolve o fotógrafo Jean-Claude Arnault, marido da poeta Katarina Frostenson, um dos membros mais proeminentes da Academia: Arnault é acusado de assédio sexual por dezoito mulheres, mas, indiferente à controvérsia, Katarina Frostenson só se demitiu há poucas semanas.
Trata-se da primeira vez que, em tempo de paz, o prémio não é atribuído.
O Nobel da Literatura foi, tal como os das restantes categorias, sete vezes não atribuído durante as guerras mundiais do século passado mas nunca por outros motivos.
Questionado pelo Diário de Notícias pela não
atribuição do Nobel da Literatura, António Lobo Antunes reagiu assim:
«O assunto Nobel não me interessa.»
À Mesa Com A Históriaé um livro, póstumo, do meu querido amigo Dr. Manuel Guimarães
(1938-1997).
No prefácio Carlos Consiglieri lembra-o como autor e realizador do programa da
televisão “Vamos Jogar no Totobola”, desde 1990 a 1993, das
crónicas publicadas no “Correio da Manhã”, no “Diário
de Notícias”, ou na “Capital”, onde manteve uma
página semanal de gastronomia.
«Poucos são os homens de cultura que neste país
abordam na escrita temas de gastronomia.
Intelectuais comilões conhecemos alguns, mas que não
sabem nada acerca, não apenas dos manjares portugueses mas também, da história,
por vezes pícara ligada, que se encontra ligada a comidas e bebidas.»
Colaboração de
Aida Santos
À Mesa Com a História
Manuel Guimarães
Prefácio: Carlos
Consiglieri
Capa: Sarah Goes
Colares Editora,
Sintra, Maio de 2001
Também já não há malgas de marmelada nos Outonos das
nossas cidades. A vida moderna encarrega-se de destruir, no espaço de duas ou
três décadas, uma assistência familiar personalizada, assente na figura da
“Mãe” que, entre outras coisas, garantia uma alimentação diferente em cada casa
de família.
Os mais velhos recordam, por certo, os comeres da infância. Aqueles dias
perfumados de fazer marmelada. A cor, a transparência e o mistério da gelei que
os mais pequenos perguntavam, intrigados, donde vinha e como era possível.
Mas tudo isso se foi, num ápice, na voragem da industrialização.
E nem por isso somos mais felizes.
Colaboração de Aida Santos
«No dia em que nasci, não chorei. Por isso puseram-me de lado, como uma encomenda de 2, 670 quilos sem franquia e sem nome e sem nome de destinatário, o tempo de preencherem a papelada administrativa para me declarem partida antes de ter chegado.
Nada-morta.
Criança sem vida e sem apelido
A
parteira teve de me dar um nome à pressa para preencher os campos em branco,
escolheu Violette.
Imagino
que eu estaria violácea da cabeça aos pés.»
A Tempestade
William
Shakespeare
Tradução: João
Grave
Capa: Luís
Filipe Cunha
Expo 98, Julho
de 1996
Ensinaste-me a falar e o único proveito que daí retiro
é o de saber amaldiçoara. Que a peste rubra vos devore, por me haverdes
ensinado a vossa linguagem!
Não te ofereço poemas de vitória:
os meus versos só falam
do que existe.
Não contarei a
esperança:
só a força que contra
tudo subsiste.
Não teço os meus poemas
de futuro:
corto-os nesta carne
que somos.
Se vives de sonhar
eu vivo de viver ─ e é mais duro!
Adolfo
Casais Monteiro
Sergio
Leone, implacável de ternura, fixa-lhe a expressão dos olhos, enquanto, em
fundo, se ouve a música de Enio Morricone.
- Espero que um dia voltes, diz ela.
- Um dia, diz ele.
Como este dum leitor da notícia de Vasco Câmara sobre a morte de Claudia Cardinale:
« Esta notícia não devia acontecer...e a acontecer não
devia ser dada...há pessoas imortais...»
Estórias Alentejanas
Urbano Tavares
Rodrigues
Capa: José
Araújo
Editorial
Caminho, Lisboa, Agosto de 1977
Agora o que é bem certo é que o prazer da escrita
tenho-o conhecido sobretudo ao evocar, ao reinventar, ao escrever o Alentejo, o
que pode parecer paradoxal, já que algumas destas histórias são negras,
dramáticas como o destino do povo junto ao qual cresci e com quem abri os olhos
para a vida.
Ouviste ontem à noite
a cadência misteriosa,
outra vez o trabalho
daquela costureira sem idade.
Os pés descalços sobre o pedal,
os braços colados ao pano, frios
e brancos, não têm carne
que possa ferir-se por
acaso ou falta de vista.
Mora dentro das paredes,
edifícios com mais de quinze anos,
e escolheu aqueles
a quem embala e atormenta o sono.
Os pontos regulares, na tua cabeça,
fixam sardinheiras frescas sobre
chitas desmaiadas pela luz do dia
que chagará daqui a nada.
Fernanda Ferra em Curso Intensivo de Jardinagem
Há vestidos tão belos, que dá vontade de os dilacerar.
Cesare Pavese em Ofício de Viver
Legenda; Claudia Cardinale em Once Upon a Time in the West
«No jornal, uma imagem do Presidente norte-americano e do rei de Inglaterra a passearem, num coche barroco, pelos jardins de Windsor. Não consigo imaginar um conto de fadas mais grotesco».
Rui
Manuel Amaral no Bicho Ruim
Donald
Trump, em cada dia que passa, revela a sua perigosidade contra o mundo,
principalmente a Europa.
É
também um enorme perigo para os Estados Unidos, disposto a transformar o país
numa ditadura.
Mas quem o poderá parar?
«Trump condena
reconhecimento da Palestina e anuncia a “morte da Europa Ocidental.
Presidente dos EUA discursou na Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde até se queixou de não ter ganhado a empreitada para renovar a sede da organização, e exortou a Europa a travar a imigração.»
Testemunhos dos Jovens de Hiroxima
Prefácio de
Bertrand Russell
Tradução: H.
Silva Letra
Capa: João da
Câmara Leme
Colecção
Documentos Humanos nº 13
Portugália
Editora, Lisboa, Maio de 1965
O meu irmão, que tinha então cinco anos, dizia sem
cessar que iria ser almirante da marinha, mas detesto a guerra porque, vença-se
ou seja vencido, muitas e muitas pessoas morrem e muitas casas e dinheiro são
queimados e se perdem buscamente.
Masako Ohta
NINGUÉM PODE RESISTIR À TUA BELEZA
Claudia Cardinale, quando fez 70 anos, hoje está com uns radiosos 76 anos, apagadas as velas, nas palavras de agradecimento, disse: nada de plásticas porque cada idade tem a sua beleza.
CC, tal como a conhecíamos em contra ponto a BB, francesa que também foi espanto dos olhos de muitos adolescentes, menor actriz que Cardinale, para além de outros inconvenientes, como se ter dedicado à protecção de animais quando, dizem, nunca cuidou do próprio filho e ainda por cima vota em Jean-Marie le Pen.
Deixe-se em paz a BB e voltemo-nos para CC.
Burt Lancaster, no papel do Príncipe Salina, em O Leopardo de Visconti:
«Deves tudo a ti mesmo. Ninguém pode resistir à tua beleza.»
Jorge Silva Melo, num inquérito do suplemento Gente do Diário de Notícias, quando lhe pediram o nome de uma mulher bonita, nem pestanejou:
- Claudia Cardinale.
E, para que não restassem quaisquer dúvidas, acrescentou:
«Luminosa. A luminosidade interior dela como os modelos de Raffaello. Não são os projectores que a iluminam. A luz emana dela. Talento tem com certeza, mas o sorriso nunca é objecto de talento. Vem de dentro. E aquele sorriso é único.»
Claudia Cardinale foi uma aparição tardia para João Bénard da Costa e tem direito a quatro páginas no seu Muito Lá de Casa e dá para, a propósito, ou o seu contrário, citar Jorge de Sena:
«não é senão o libertar do encanto que foste ao longe,à luz do mar aceso.»
E
conclui:
«É essa luz, que tantos ficaram presos os anos 60 e 70.»
Tão
simples como isto.
(Texto
publicado em 8 de Novembro de 2014).
Tinha
87 anos.
«Todos tivemos uma
paixão por Cláudia Cardinale. Efectivamente, resulta impossível ficar
indiferente a esta actriz. Com a sua entrada em cena, esquecemos tudo o resto e
o nosso ritmo cardíaco sobe.»
O domingo era uma coisa
pequena.
Uma coisa tão pequena
que cabia inteirinha nos teus olhos.
Nas tuas mãos
estavam os montes e os rios
e as nuvens.
Mas as rosas,
as rosas estavam na tua boca.
Hoje os montes e os
rios
e as nuvens
não vêm nas tuas mãos.
(Se ao menos elas viessem
sem montes e sem nuvens
e sem rios…)
O domingo está apenas nos meus olhos
e é grande.
Os montes estão distantes e ocultam
os rios e as nuvens
e as rosas.
Eugénio
de Andrade de As Mãos e os Frutos em Poemas
A Sociedade Humana na Ética e na Política
Bertrand Russell
Tradução:
Oswaldo de Araújo Souza
Companhia
Editora Nacional, São Pulo, 1956
O homem, como diziam os órficos, é filho da terra e do
céu estrelado ou, em linguagem mais atual, uma combinação de deus e fera. Há os
que cerram seus olhos à fera e os que fecham para o deus. É muito fácil fazer
um retrato do homem apenas como fera.
Ninguém Escreveao Coronel… mas a caixa do correio vai-se enchendo de facturas para pagar – velho que sou nunca aderi a Débitos Directos… - publicidades várias… e estarão para chegar os apelos a votos nas eleições autárquicas… e hoje, algo para resolver o problema da habitação… dado que o governo declarou que o Luís não tempo para tudo…
Neste Dia, ou num outro qualquer, que no caso, é 2 de Dezembro de 1994, José Saramago, no 2º volume dos seus Cadernos de Lanzarote, está à volta com a Europa, ele que sempre disse: «Sou um europeu céptico que aprendeu todo o seu cepticismo com uma professora chamada Europa», ou «Um futuro que não passa, com certeza, pela CRR. Nada temos a ver com a Europa.».
A pergunta que o jornalista Amílcar Correia faz hoje no Público:
«Posso ser despedido por este texto?»«Portugal tem segunda banca mais rentável da zona euro.
O primeiro semestre do ano continuou a ser de lucros recorde para alguns dos
principais bancos portugueses e isso reflectiu-se na posição relativa que o
sector bancário nacional apresenta no total da zona euro: é o segundo mais
rentável da região. Um ano antes era o quinto.»
Memória de meu bem,
cortado em flores
por ordem de meus tristes e maus Fados,
deixai-me descansar com meus cuidados
nesta inquietação de meus amores.
Basta-me o mal presente e os temores
dos sucessos, que espero, infortunados;
sem que venham, de novo, bens passados
afrontar meu repouso com suas dores.
Perdi nüa hora quanto em termos
tão vagarosos e largos alcancei;
leixai-me, pois, lembranças desta glória.
Cumpre acabe a vida nestes ermos,
que neles com meu mal acabarei
mil vidas, não ua só, dura memória!
Luís de Camões
Um silêncio ainda claro, de imenso repouso, tão doce como se descesse do Céu, cobria a largueza povoada dos campos, onde não se movia uma folha, na macia transparência do ar de Setembro. Os fumos das lareiras acesas já se escapavam, lentos e leves, de entre a telha rala.
Eça
de Queiroz em A Ilustre Casa de Ramires
Jorge Amado
Capa: Luís Duran
Livros Unibolso
nº 100
Editores Associados,
Lisboa s/d