A Breve Vida das Flores
Valérie Perrin
Tradução: Maria
de Fátima Carmo
Editorial Presença, Lisboa, Maio de 2023
Os meus vizinhos são determinados. Não têm preocupações,
não se apaixonam, não roem as unhas, não acreditam no acaso, não fazem
promessas nem barulho, não têm segurança social, não choram, não procuram as
chaves nem os óculos, o telecomando, os filhos ou a felicidade.
Não leem, não pagam impostos, não fazem dieta, não têm
preferências, não mudam de opinião, não fazem a cama, não fumam, não fazem
listas, não pensam duas vezes antes de flar. Não têm substitutos.
Não são graxistas, ambiciosos, rancorosos, sedutores,
mesquinhos, generosos, invejosos, desleixados, limpos, sublimes, curiosos,
viciados, avarentos, sorridentes, maliciosos, violentos apaixonados,
mal-humorados, hipócritas, dóceis, duros, mudos, maus, mentirosos, ladrões,
jogadores, corajosos, falsos, crentes, pervertidos, otimistas.
Estão mortos.
A única diferença entre eles é a madeira do caixão: carvalho, pinho ou mogno.

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