quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

OLHAR AS CAPAS


Sonetos

Luís de Camões
Prefácio, selecção, notas e bibliografia: João de Almeida Lucas
Colecção Clássicos Portugueses nº 7
Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1942

O dia em que eu nasci, moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.

A luz lhe falte, o sol se escureça,
mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,
as lágrimas no rosto, a côr perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
que este dia deitou ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu.

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