terça-feira, 28 de janeiro de 2020

MANEIRAS DE VER


Todos saberemos que o Tete Montoliú era uma pessoa de baixa estatura e invisual, mas nem todos tiveram a oportunidade de, privando com ele, apreciar o seu enorme sentido de humor e a sua capacidade de gozar com o seu infortúnio. Era também um inveterado pinga-amor, sempre com novas conquistas femininas. Quando chegou a Lisboa, o Francisco Almeida e o José Soares foram buscá-lo ao aeroporto num FIAT 127. Quando se nos apresentou, vinha acompanhado da sua última conquista. Uma senhora quase com o dobro da sua altura e da sua envergadura. Lá se conseguiu meter toda a gente e bagagem no 127, eles atrás e nós à frente. A caminho do hotel, passámos pela Av. de Roma, onde o antigo Cinema Roma exibia o filme Emmanuelle. Diz a senhora: “Mira, Tete, está ali um cinema que passa a Emmanuelle.” Resposta instantânea do Tete: “Quero vir ver.” Silêncio de morte à frente. Olhámos um para o outro, de boca aberta, como quem diz “Ouvi bem?!”. E era verdade. Fartou-se de insistir e lá comprámos dois bilhetes. Foram ver o filme e o Tete adorou.

João Paulo Bessa em Hot News nº 8

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