A Cidade de Cobre
Gil de
Carvalho
Edições
Cotovia, Lisboa, Outubro de 2001
Comprámos um frango na venda do outro
lado da cerca e fizemos a refeição no alpendre que ficava nas traseiras. Para
ver a tua palmeira, bebíamos vinho novo e comíamos queijo seco barrado com
colorau, e azeitonas, por copos vidrados e com os garfos de aço cru e mal
temperado. A pequena lama negra posta assim no rosto de ambas era proveniente
de uma mistura inusitada a meio do riacho, no fundo do Parque Real, vedado agora.
Arabescos, salpicados de algum vermelho e espantalhos. Via-te agora
transformada numa monja de cabeça quase rapada, e belos seios, por baixo da
veste amarela, extraviada, pelas privações do comunismo. Faço a vénia e prossigo
a descida para o rio, íngreme e seca. O meu cão é Pirgos, de seu nome, e ladra
sem cessar. Urino de seguida junto à porta baixa do convento abandonado, e
trancado, boa parte do ano. A tua palmeira ainda lá está. Diria que é a única
coisa de pé naqueles locais que para nós foram, durante algum tempo sagrados.
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