Diversos
livros de Aquilino Ribeiro vieram da biblioteca do meu pai.
Sempre tive
grandes dificuldades com Aquilino Ribeiro.
Ainda hoje, é
uma enorme lacuna das minhas leituras de autores portugueses.
Mas
recordo-me que o único livro de Aquilino que comprei foi A Casa GrandeRomarigães.
A lápis, no
canto superior direito da 1º página, o livreiro escreveu: 45$00. Mas não passei
da página 54. Sei isto porque, naquele tempo, os livros não se vendiam com as
folhas guilhotinadas, tinham de ser abertos com uma faca.
«De repente senti saudade da velha
ferramenta do jovem leitor que fui. A faca de papel. A ferramenta fora de uso
morre. A faca de papel, belo objecto, está a desaparecer. E com ele talvez
certa leitura.
Jorge
Listopad em Secos e Molhados.
A minha tarefa de leitura ficou-se por essa
página. Havia quem comprasse os livros e os abrisse de uma vez só. Eu gostava
de ir abrindo à medida que os ia lendo.
Terá sido a
velha história: chateei-me de ler tanta palavra que desconhecia, e, numa de
preguiça literária, cansei-me da necessidade de tanto ter que pegar no
Dicionário.
«O que é um pincha-no-crivo?»
«Tens aí dicionários, procura!»
Pergunta
minha na preguicite dos meus 16 anos e a resposta do meu avô.
Mas A Casa de
Romarigães tem um começo extraordinário e um final não menos extraordinário.
O começo já está apresentado, o final é este:
É pena que se não possa regular a vida
como um relógio, andando com os ponteiros para diante e para trás segundo a
nossa conveniência. Como eu faria da Quinta do Amparo um jardim maravilhosos, a
minha instância de contemptor do Mundo, e de Nossa Senhora, esta doce imagem de
faces bochechudinhas, minha amiga do coração?! A Primavera, tantas vezes
rebelde ao calendário, rejuvenesce tudo menos o homem. As leis da ciclidade
física assim o mandam. Para o ano, por esta altura, voltarão as aves a cantar.
Que chova, que faça um sol radioso, com o mundo vegetal pletórico de seiva ou
mais aganado, à triste planta humana é que nada a afasta da sua carreira para a
morte. Será ela a obra-prima da Criação ou a pior de todas?
Ainda terei
tempo para ler o que não li de Aquilino?
Tempo, se bem
que cada vez mais curto, talvez tenha. Mas vontade?
Legenda: pág. 285 do 8º volume do velho
Dicionário de Morais
Sem comentários:
Enviar um comentário