Gosto de
comboios, não tanto como John Ford, que os pôs em westerns e, mais poética e
maravilhosamente, naqueles seus filme irlandeses, um deles O Homem Tranquilo
com John Wayne e Maureen O'Hara
Camus não
gostava de automóveis.
A 4 de Janeiro
de 1960, para regressar, da sua casa de Lourmarin, a Paris, onde tinha encontro
marcado com André Malraux, ministro da cultura, que tencionava propor a Camus a
direcção de um teatro de ensaio, comprara um bilhete de comboio.
Acabou por
viajar no carro de Michel Gallimard, sobrinho do seu editor. Camus seguia ao
lado do condutor, atrás a mulher e a filha de Michel. No trajecto, em
Villeblevin, um pneu que rebenta e o carro, que rolava a alta velocidade,
descontrola-se e bate violentamente contra uma árvore.
Camus teve morte
imediata, Gallimard morreria dias depois, as duas mulheres, feridas, salvaram-se.
Na sua mala de
viagem, o bilhete de comboio que não fôra utilizado, o manuscrito, ainda
inacabado, de O Primeiro Homem, onde conta a sua infância, que seria o volume
inicial de uma trilogia que o autor pretendia escrever.
O relógio do
carro marcava as 13 horas e 55 minutos.
Camus disse que nada era mais terrível que a morte de uma
criança e nada mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel.
Que levou Camus a mudar de planos no seu regresso a
Paris?
Quantos mais livros teria escrito? Quantos mais cigarros
teria fumado?
Alguém dirá: foi o
destino.
Outro alguém acrescentaria: o destino é um fulano sem moral nenhuma.
Aquele bilhete de comboio encontrado na sua mala…
Algum tempo antes, não sei quanto, Catherine, filha de
Camus, vendo-o abatido pergunta:
- Estás triste?
- Não. Apenas só!,
ouviu como resposta.
Urbano Tavares Rodrigues encontra-se com Albert Camus nos escritórios da Gallimard, mantém uma longa conversa que Urbano faz publicar no Diário de Lisboa de 16 de Maio de 1953, que, certamente devido a cortes da censura salazarista, apenas deu uma página do vespertino.
«Tenho diante de mim, sereno e triste, um homem honesto e “só”, abandonado, atacado, exultado, caluniado, uma das grandes e nobres figuras do nosso século, até para os que dele discordam politicamente; um homem sempre desejoso de justiça, mas também de tolerância, defensor dos fracos e dos oprimidos, da arte e da liberdade, figura poética e não obstante poderosamente lógica no nosso mundo apaixonado pela violência e pela eficiência mecânica. Camus tem combatido e negado o obscurantismo cruel que se diz ou se acredita ao serviço da justiça e da liberdade. Tem-se oposto ao servilismo do comunismo imperialista de certos intelectuais de esquerda, “fascinados – como ele próprio denuncia – pela força e pela eficácia”, tal como os nazis de há quinze anos. Camus desmente os que o acusam de haver renegado a esquerda: a esquerda para ele é ainda hoje e será sempre a oposição à tirania. Não aceita o argumento dos defensores da Rússia soviética, segundo os quais o sentido da história tudo justifica. Para Camus a opressão é sempre opressão: não há carrascos privilegiados.»
1 comentário:
Quanta desta gente, que está sempre on-linne, já leu um livro do Camus?
Ontem vi no JOKER RTP1 dois professores que não conheciam Roosevelt o presidente dos EUA durante a 2.guerra mundial.
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