domingo, 5 de janeiro de 2020

OLHAR AS CAPAS


Obra Poética I

António Ramos Rosa
Organização de Luís Manuel Gaspar
Colaboração de Agripina Costa Marques e Maria Filipe Ramos Rosa
Posfácio: Silvina Rodrigues Lopes
Assírio & Alvim, Lisboa, Setembro de 2018

Não dissemos as palavras mais simples
a caligrafia das águas sobre a pedra     uma pedra vacila verde
as árvores despertam dormem apertadas na concavidade do rumor
não dissemos ainda as pálpebras longínquas do horizonte
o trêmulo deslumbramento da água jorrando lisa de terra
não dissemos a progressão das formigas em torno da árvore
de claras malhas como um leopardo
não dissemos as vagas sombras imóveis as folhas verdes
as altas e negras flores nas varandas suspensas
não dissemos sequer o nascimento da terra e do cavalo
as manhãs a meia-noite o turbilhão
do ventre o arranque para a primeira explosão no mar e o muro
onde o tempo se condensa como um navio suspenso sobre o mar vertical.

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