Obra Poética I
António Ramos Rosa
Organização de Luís Manuel Gaspar
Colaboração de Agripina Costa Marques e Maria Filipe Ramos Rosa
Posfácio: Silvina Rodrigues Lopes
Assírio & Alvim, Lisboa, Setembro de 2018
Não dissemos as palavras
mais simples
a caligrafia das águas
sobre a pedra uma pedra vacila verde
as árvores despertam
dormem apertadas na concavidade do rumor
não dissemos ainda as
pálpebras longínquas do horizonte
o trêmulo deslumbramento
da água jorrando lisa de terra
não dissemos a progressão
das formigas em torno da árvore
de claras malhas como um
leopardo
não dissemos as vagas
sombras imóveis as folhas verdes
as altas e negras flores
nas varandas suspensas
não dissemos sequer o
nascimento da terra e do cavalo
as manhãs a meia-noite o
turbilhão
do ventre o arranque para
a primeira explosão no mar e o muro
onde o tempo se condensa
como um navio suspenso sobre o mar vertical.
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