sábado, 18 de janeiro de 2020

OLHAR AS CAPAS


Deixar a Vida

Jorge Silva Melo
Edições Cotovia, Lisboa, Abril de 2002

E assim posso chegar a um novo ensaio geral: trabalhámos dois meses, as regras foram ultrapassadas, as hipóteses estão definidas, o espectáculo pode estrear amanhã. Durmo confiante: a vida vai entrar. Porque tudo o que fazemos nos sombrios dois meses de todas as dúvidas que são os ensaios foi deixar a vida entrar.
Não a quero espartilhar, dominar, dobrar. Quero que ela entre, imprevista, ao sopro tangente dos dias, delicada: em nome de um trabalho responsável.
Ensaiar é também aprender a morrer: e morrer também é deixar a vida.

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