O escritor Luís Sepúlveda fez parte da guarda pessoal de Salvador Allende. Tinha, 23 anos.
Sempre que
lembro aquele 11 de Setembro de 1973, salta-me a frase de Simone Beauvoir:
«É horrível assistir à agonia de uma esperança.»
Poderemos
também referi-la no que ao nosso 25 de Abril de 1974 diz respeito?
A Sombra Do Que Fomos lembra o manto de terror que envolveu o Chile.
Escrito com humor, conduz-nos para uma nostalgia amarga, uma nostalgia de quem sabe que a juventude de muitos terminou nesse 11 de Setembro de 1973.
É um livro
comovente, um livro escrito por alguém que sabe, que do exílio não se regressa
nunca.
Quatro ex-exilados, antigos militantes de esquerda, sobreviventes de um tempo dramático, encontram uma pátria onde tudo é diferente. Juntam-se para uma última aventura que, possivelmente, vai fracassar, mas fazem-no em nome dos mesmos valores e recordam, na história de Santiago, por 1923, o assalto a um banco:
«Entraram de cara descoberta, fecharam a única porta, puxaram das armas e Durruti, com uma voz mais adequada a um actor de folhetins radiofónicos disse: “Isto é um assalto mas não somos ladrões. Os donos do capital unem-se para explorar os povos de todo o mundo e é justo que os ataquemos onde menos esperam. O dinheiro que levarmos tornará possível a felicidade dos condenados da terra. Saúde e anarquia!»
A páginas 87 do livro, um destes ex-exilados, por conduzir o carro em sentido contrário. provoca um grave acidente. Sepúlveda adianta o porquê:
«Era um retornado do exílio, um homem que tinha vivido quinze anos em Praga e em sua defesa alegava que os factos tinham ocorrido no seu bairro, que toda a vida aquela rua ia de norte a sul e que não sabia quando tinha mudado de sentido. Os que voltavam do exílio andavam desorientados, a cidade não era a mesma, procuravam os seus bares e encontravam lojas de chineses, na farmácia da sua infância havia um bar de “topless”, a velha escola era agora um concessionário de automóveis, o cinema do bairro uma igreja dos irmãos pentecostais, Sem os avisarem, tinham-lhes mudado o país.»
A ditadura de
Pinochet durou 17 anos, uma parte do povo chileno esteve de acordo com essa
ditadura, outra parte foi conivente – por medo, por conveniência, por
ignorância.
Sabemos bem
como isso é.
A nossa
ditadura durou quase 50 anos, e, tempos atrás, muitos mesmo, o Armindo, para
indignação dos que o rodeavam, dizia: «não é Salazar que é forte, é a
oposição que é fraca.»
Alguma coisa já mudou no Chile, mas, mau grado algum optimismo, ainda não deixou de chover em Santiago.
Os povos
levam tanto tempo a perceber os sinais, os acontecimentos do passado!...
Na
dedicatória do livro, o autor escreveu:
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