A Pequena Morte
Hélia Correia
Elogio da
Obra: Ernesto José Rodrigues
Black Son
Editores, Lisboa, Janeiro de 1986
Pode a serenidade destas rosas
atravessar a noite
sem que a esfolhem
os comovidos ares?
Sem que este perigo
_este sabor a perigo_
empalideça as mais
sombrias pétalas?
Ou esperarão, acaso,
com seus olhos
impotentes de flor,
com seu disforme e pútrido
alimento,
esperarão, inclinados,
exalando perfumes tumulares?
Vigiarão teu cerco, salivando,
escorrendo ânsias carnais;
seguirão o teu corpo,
palpitando
inchadas como um sexo
ouvindo as garras?
Assistindo ao amor,
aos instrumentos
e paixões do amor,
à crueldade,
mordem, pedindo sangue,
essas obscenas,
ferozes bocas:
com sua antiga vocação
de rosas
_a de vestir
cadáveres,
a de ornar
os vencidos despojos,
virão, sorrindo,
sobre a minha morte.
atravessar a noite
sem que a esfolhem
os comovidos ares?
Sem que este perigo
_este sabor a perigo_
empalideça as mais
sombrias pétalas?
Ou esperarão, acaso,
com seus olhos
impotentes de flor,
com seu disforme e pútrido
alimento,
esperarão, inclinados,
exalando perfumes tumulares?
Vigiarão teu cerco, salivando,
escorrendo ânsias carnais;
seguirão o teu corpo,
palpitando
inchadas como um sexo
ouvindo as garras?
Assistindo ao amor,
aos instrumentos
e paixões do amor,
à crueldade,
mordem, pedindo sangue,
essas obscenas,
ferozes bocas:
com sua antiga vocação
de rosas
_a de vestir
cadáveres,
a de ornar
os vencidos despojos,
virão, sorrindo,
sobre a minha morte.
Sem comentários:
Enviar um comentário