Não sou um
agendador de mortes, mas consigo intuir que durante o ano de 2019 foi largo o
número de escritores, cantores, músicos, de que tanto gostava, e que já não se
encontram por aqui.
A alguns fiz
referência, de outros não consegui dizer nada.
Na coluna que
Gonçalo M. Tavares assina na última página do JL, o escritor pergunta:
«Hoje já disseste alto o nome dos teus
mortos? Eis uma pergunta forte.
Repetir o nome de quem morreu, uma das
tarefas essenciais dos vivos.»
Não falei da
morte de Patxi Andion, ocorrida a 18 de Dezembro, num acidente de automóvel, na
provincia de Soria.
Patxi Andion
foi uma descoberta solitária.
Corria o ano
de 1969 comprei Retratos, um LP editado pela Movie Play. E passei a
comprar todos os álbuns que foram saindo.
Patxi Andion
por duas vezes quis cantar em Portugal, mas a PIDE colocou-a na fronteira.
À terceira,
foi de vez.
Na noite de 24 de Março de 1974, faltava um mês para acontecer o dia das surpresas, Patxi Andion encheu o velho Coliseu.
César Oliveira, no livro de memórias a que deu o nome de Os Anos Decisivos, recorda esse espectáculo:
«Este clima que andava no ar, este “sentir na pele” de que alguma coisa teria de acontecer, a seguir ao fracasso do 16 de Março, foi exemplarmente experimentado num espectáculo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com o cantor basco Patxi Andion.
A sala estava, literalmente, a abarrotar. Agentes da PIDE/DGS circulavam na sala, nos corredores, na rua do Coliseu. Perto, por detrás do Teatro Nacional, carrinhas da Polícia de Choque. Patxi Andión percebeu e sentiu o clima electrizante que se viveu e “puxou” e tornou a “puxar” pelo público.
Ao cantar “El Maestro” – “al explicar una guerra/siempre se muestra remiso/explicando claramente/quien venció y fue vencido” – praticamente toda a vasta sala, desde a plateia aos camarotes, balcão e geral, estava de pé, punhos erguidos, soltando-se algumas vozes em “Viva a Liberdade! Abaixo o Fascismo!”
Foi, sem sombra de dúvidas para qualquer espécie, um dos momentos mais altos e com uma carga dramática e épica mais intensa que até hoje pude ver num espectáculo musical.»
Na noite de 24 de Março de 1974, faltava um mês para acontecer o dia das surpresas, Patxi Andion encheu o velho Coliseu.
César Oliveira, no livro de memórias a que deu o nome de Os Anos Decisivos, recorda esse espectáculo:
«Este clima que andava no ar, este “sentir na pele” de que alguma coisa teria de acontecer, a seguir ao fracasso do 16 de Março, foi exemplarmente experimentado num espectáculo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com o cantor basco Patxi Andion.
A sala estava, literalmente, a abarrotar. Agentes da PIDE/DGS circulavam na sala, nos corredores, na rua do Coliseu. Perto, por detrás do Teatro Nacional, carrinhas da Polícia de Choque. Patxi Andión percebeu e sentiu o clima electrizante que se viveu e “puxou” e tornou a “puxar” pelo público.
Ao cantar “El Maestro” – “al explicar una guerra/siempre se muestra remiso/explicando claramente/quien venció y fue vencido” – praticamente toda a vasta sala, desde a plateia aos camarotes, balcão e geral, estava de pé, punhos erguidos, soltando-se algumas vozes em “Viva a Liberdade! Abaixo o Fascismo!”
Foi, sem sombra de dúvidas para qualquer espécie, um dos momentos mais altos e com uma carga dramática e épica mais intensa que até hoje pude ver num espectáculo musical.»
O meu pai
também gostava de Patxia Andión e pediu-me que incluísse algumas das suas
canções nas cassettes que lhe fui gravando.
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