A lupa detém-se hoje na censura que a ditadura nos impôs e chega a um trabalho de Maia do Amaral realizado para a Universidade de Coimbra e anda à volta de um livro de José Cardoso Pires - O Dinossauro Excelentíssimo, um livro escrito à rédea solta, uma sátira política que ridicularizava Salazar, recheado de ingredientes que, necessariamente acabaria por colocar o livro «Fora do Mercado» e em que os desenhos de João Abel Manta ocupam sinal de relevo.
O livro começa assim:
«De facto, não há muito tempo existiu no Reino do Mexilhão um imperador que na ânsia de purificar as palavras acabou por ficar entrevado com a paralisia da mentira.» e a história «censória» que envolve o livro é esta:
«Um dos casos mais
extraordinários deu-se com o Dinossauro Excelentíssimo de J. Cardoso Pires. O
livro acabara de sair e o deputado da «ala liberal» Miller Guerra afirmou na
Assembleia Nacional que não havia liberdade em Portugal. Para o contrariar, o
deputado Casal-Ribeiro (ultraconservador) perguntou-lhe, precipitadamente: «V.
Exa. falou no falso conceito de liberdade. E eu pergunto o seguinte: V. Exa.
quer mais liberdade do que aquela que nós vivemos neste momento, quando se
permite, por exemplo, a saída de um livro ignóbil chamado Dinossauro
Excelentíssimo?» (Diário da Sessões, n.º 201, 29 nov. 1972, p. 3960–3961).
Apontado estupidamente como um exemplo da liberdade, a Censura ficou sem
capacidade de atuar, em relação ao livro e ao seu autor. E foi um verdadeiro
sucesso com seis edições entre 1972/73.»

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