terça-feira, 13 de maio de 2025

À LUPA


A lupa detém-se hoje na censura que a ditadura nos impôs e chega a um trabalho de Maia do Amaral realizado para a Universidade de Coimbra e anda à volta de um livro de José Cardoso Pires - O Dinossauro Excelentíssimo, um livro escrito à rédea solta, uma sátira política que ridicularizava Salazar, recheado de ingredientes que, necessariamente acabaria por colocar o livro «Fora do Mercado» e em que os desenhos de João Abel Manta ocupam sinal de relevo.

O livro começa assim: 

«De facto, não há muito tempo existiu no Reino do Mexilhão um imperador que na ânsia de purificar as palavras acabou por ficar entrevado com a paralisia da mentira.» e a história «censória» que envolve o livro é esta:

«Um dos casos mais extraordinários deu-se com o Dinossauro Excelentíssimo de J. Cardoso Pires. O livro acabara de sair e o deputado da «ala liberal» Miller Guerra afirmou na Assembleia Nacional que não havia liberdade em Portugal. Para o contrariar, o deputado Casal-Ribeiro (ultraconservador) perguntou-lhe, precipitadamente: «V. Exa. falou no falso conceito de liberdade. E eu pergunto o seguinte: V. Exa. quer mais liberdade do que aquela que nós vivemos neste momento, quando se permite, por exemplo, a saída de um livro ignóbil chamado Dinossauro Excelentíssimo?» (Diário da Sessões, n.º 201, 29 nov. 1972, p. 3960–3961). Apontado estupidamente como um exemplo da liberdade, a Censura ficou sem capacidade de atuar, em relação ao livro e ao seu autor. E foi um verdadeiro sucesso com seis edições entre 1972/73.»

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