Caetés
Graciliano Ramos
Ensaio de
Interpretação: Floriano Gonçalves
Capa: Santa Rosa
Livraria José
Olympio Editora, Rio de Janeiro, Janeiro de 1947
Adrião, arrastando a perna, tinha-se recolhido ao
quarto, queixando-se de uma forte dor de cabeça. E dispunha-se a sair, porque
sentia acanhamento e não encontrava assunto para conversar.
Luísa quis mostrar-me uma passagem no livro que lia.
Curvou-se. Não me contive e dei-lhe dois beijos no cachaço. Ela ergueu-se,
indignada:
- O senhor é doido? Que ousadia é essa? Eu…
Não pôde continuar. Dos olhos que deitavam faíscas, saltaram
lágrimas. Desesperadamente perturbado, gaguejei tremendo:
- Perdoe, minha senhora. Foi uma doidice.
- É bom que se vá embora, gemeu Luísa com o lenço no
rosto.
- Foi
uma tentação, balbuciei sufocado, agarrando o chapéu. Se a senhora soubesse…Três
anos nisto! O que tenho sofrido por sua causa…Não volto aqui. Adeus.
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