Estamos com o nº1 da Colecção Poetas de Hoje editados pela Portugália Editora: Os Poemas de Álvaro Feijó.
O prefácio do
livro é de João José Cochofel e ambos são velhos amigos e formados na escola
neo-realista onde tiveram a companhia, entre outros, de Carlos de Oliveira,
Joaquim Namorado.
Álvaro Feijó
morreu muito novo, tinha 24 anos quando morreu em 1941.
Escreve
Cochofel:
«Fantasia e
realidade constituem os ingredientes indissociáveis da poesia de Álvaro Feijó,
que era daqueles poetas que de tudo arrancam poesia, dos pequenos nadas, dos
miúdos acontecimentos do dia a dia, até de uma simples notícia de jornal, das
emoções pessoais como dos factos observados, que a sua visão exercitada capta e
que o seu adestramento formal sabe fixar
com uma fidelidade que raro entra em conflito com a riqueza poética da
expressão.»
Esta frase
sublinhei-a no prefácio de Cochofel, razão mais que suficiente para que a
poesia de Álvaro Feijó tivesse uma entrada significante no jovem que então
estava a desbravar os novos poetas portugueses que ele desconhecia por completo.
«Mas se cantares a rua, a fome, o sofrimento,
se abrires os olhos sobre o nosso mundo,
se conseguires que toda a gente o veja
e o sinta, e sofra, só de ver sofrer,
ninguém se lembrará de ti poeta,
mas terás feito a tua luta,
e nela,
justificado uma razão de ser.»
O poema que
Álvaro Feijó escolheu para deixar o seu autógrafo, é:
LARGADA
«33…35…Rumo ao Norte»!
Só isto! Nada mais!
E isto quer dizer
a saudade do cais
que se perdeu de vista;
o Mar que se conhece braça a braça
por outro mar sem fundo;
as praias onde andara em pequenino
pelas do Cabo do Mundo,
geladas e tristes;
a mulher possuída realmente
pela mesma mulher
que se quer
e se não tem,
e a voz dum filho nu – continuamente –
debruçado do cais
a pedir pão!
- «33… 35… Rumo ao Norte».
Só isto! Nada mais!
Julho de 1940
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