sábado, 24 de maio de 2025

POEMAS AUTOGRAFADOS


 Estamos com o nº1 da Colecção Poetas de Hoje editados pela Portugália Editora: Os Poemas de Álvaro Feijó.

O prefácio do livro é de João José Cochofel e ambos são velhos amigos e formados na escola neo-realista onde tiveram a companhia, entre outros, de Carlos de Oliveira, Joaquim Namorado.

Álvaro Feijó morreu muito novo, tinha 24 anos quando morreu em 1941.

Escreve Cochofel:

«Fantasia e realidade constituem os ingredientes indissociáveis da poesia de Álvaro Feijó, que era daqueles poetas que de tudo arrancam poesia, dos pequenos nadas, dos miúdos acontecimentos do dia a dia, até de uma simples notícia de jornal, das emoções pessoais como dos factos observados, que a sua visão exercitada capta e que o seu  adestramento formal sabe fixar com uma fidelidade que raro entra em conflito com a riqueza poética da expressão.»

Esta frase sublinhei-a no prefácio de Cochofel, razão mais que suficiente para que a poesia de Álvaro Feijó tivesse uma entrada significante no jovem que então estava a desbravar os novos poetas portugueses que ele desconhecia por completo.

 

«Mas se cantares a rua, a fome, o sofrimento,

se abrires os olhos sobre o nosso mundo,

se conseguires que toda a gente o veja

e o sinta, e sofra, só de ver sofrer,

ninguém se lembrará de ti poeta,

mas terás feito a tua luta,

e nela,

justificado uma razão de ser.»

 

O poema que Álvaro Feijó escolheu para deixar o seu autógrafo, é:

 

LARGADA

 

«33…35…Rumo ao Norte»!

 

Só isto! Nada mais!

 

E isto quer dizer

a saudade do cais

que se perdeu de vista;

o Mar que se conhece braça a braça

por outro mar sem fundo;

as praias onde andara em pequenino

pelas do Cabo do Mundo,

geladas e tristes;

a mulher possuída realmente

pela mesma mulher

que se quer

e se não tem,

e a voz dum filho nu – continuamente –

debruçado do cais

a pedir pão!

 

- «33… 35… Rumo ao Norte».

 

Só isto! Nada mais!

Julho de 1940

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