Lá para o sul,
há um país que dá pelo nome de Alentejo.
Este é um livro que fala do Alentejo ou de quem gosta muito de morrer.
Tenho guardado,
há longo tempo, uma história de que não lembro o autor, tão pouco o sítio de
onde a tirei:
«Passou a santa vida a beber copos de cinco, no balcão
de pé. Mesmo tendo todo o tempo do mundo – como gostava de arrematar – nunca o
viram sentado na taberna. Dizia que gostava de estar à altura do momento. E
ria-se, ria-se escancaradamente de si mesmo enquanto cismava que afinal, era um
homem para consumo próprio.
Estimava igualmente sublinhar que, em coerência com o
consumo, era também dono de si próprio.
E assim parecia ser. Corria à boca cheia que sempre
que um patrão o tentou abeirar do vexame ou da desfeita: despediu-se. Alardeava
depois que não eram só os balcões que o conheciam de pé!
Como não tinha paciência para usar a vida a meias,
permaneceu solteirão. Quando a velhice tentou empurrá-lo para a dependência do
lar da misericórdia, bradou: serei até ao fim eu o meu único dono. Suicidou-se,
igualmente de pé!
(Desaforadamente, depois de morto, a estatística
usou-o como mero número para informar que o Alentejo é região contumaz no topo
de suicídios.)»
No seu Diário,
Miguel Torga tem esta frase:
«Foi a terra alentejana que fez o homem alentejano, e eu quero-lhe por isso. Porque não o degradou, proibindo-o de falar com alguém de chapéu na mão.»
Na contra capa
pode ler-se que os factos verdadeiros são os piores.
Mas que factos?
«Faz calor na
província dos suicidas. Dá vontade de rir: uma cidade em que até o coveiro se
mata… São estatísticas, tudo em números.»
Ou como disse o
poeta Mário de Sá Carneiro: «um pouco mais de sol - eu era brasa.»
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