A crónica de Ana Cristina Leonardo no Ipsilon de sexta-feira, como habitualmente, tem muito interesse.
A pergunta é:
Se os algarvios tivessem um hospital decente, os
resultados eleitorais manter-se-iam os mesmos?
E a cronista adianta:
«Tudo começou lá muito atrás, era 2002 (vá lá, já foi no século XXI).
Primeiro veio o despacho, um ano depois o mesmo ministro aprova a escolha do
terreno; ainda em 2003 é celebrado um Acordo Estratégico, seja lá isso o que
for. Em 2004, é a quinta prioridade dos hospitais a construir pelas parcerias
público-privadas. Em 2005 há novo estudo e em 2006 passa a segunda prioridade.
No mesmo ano, nomeiam-se grupos de trabalho em barda. 2007: mais despachos.
2008: preparação do concurso e apresentação pública do novo hospital (uf!).
Refreie-se o optimismo! Chega 2009 e mais um despacho. 2010: seleccionam-se
duas propostas e em Setembro “inicia-se a fase de negociação, que ainda
decorre” (sic).
Isto, podendo não ser gozar com quem trabalha, é decerto gozar com quem está
doente.»
Mais um pedacinho da crónica:
«Se apelidar alguém de gordo pode ser interpretado
como discurso de ódio, se questionar a participação de mulheres trans em
competições desportivas femininas pode ser (e geralmente é, que o diga J. K.
Rowling…) visto como transfobia, se recusar a chamada linguagem inclusiva que
multiplica casos e casinhos pode ser entendido como discriminatório, se optar
por usar a palavra deficientes em vez da designação pessoas com deficiência
pode ser lido como prova de insensibilidade, se contar uma piada passou a ser
razoável apenas e só se a piada não ofender ninguém, se… se… se… Já aparecer
nas televisões e nos jornais a afirmar mentirosamente (desmentido pelos
serviços hospitalares e pela PSP) que os ciganos o queriam matar, ou a
expressar ideias boçais que nem na taberna de Eco, como fez o deputado Pedro
Pinto (Deputado! Por Toutatis!) — “Não podem querer que André Ventura vá para
uma cama onde ao lado esteja, por exemplo, alguém de etnia cigana” — passou a
ser admissível e, além de admissível, aceitável.
Repare-se, porém, no detalhe (e o Diabo, é sabido, está nos detalhes): Pedro
Pinto, recorrendo, até ele, e apesar da boçalidade, ao politicamente correcto —
um entendimento linguístico que nos conduziu à ideia de que é possível mexer na
merda sem sujar as mãos… —, não diz ciganos, diz alguém de etnia cigana. É o
progresso!»

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