Não permitas que a noite se desabe,
habituada e negra.
Antes confunde
as regras e as sombras
que lhe obedecem,
cegas. Não descanses
olhar sobre
o vazio, nem no
silêncio seduzindo
em nada. Aqui: címbalo,
pífaro, assobio,
ou tampas de barulho
avesso à almofada.
Grita, blasfema, geme
em timbre agudo,
mas não deixes a lua,
com passos de veludo
entrar pela ombreira,
sentar-se e conversar.
Nem lhe ofereças um lar
de cabeceira
e penumbra doente.
Argumenta-a de frente
e à seda roçagante dos
seus passos;
numa filosofia de
algibeira,
resiste-lhe o abraço
cultivado. E rasga
a sua máscara ausente
de suor. Não entres
docemente nessa noite.
Não entres
tão depressa.
Ana Luísa Amaral
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