Já mais de uma vez disse, que não irei ter tempo para aqui colocar todos os livros da Biblioteca da Casa.
O livro de Sebastião Salgado, publicado em Fevereiro de 1967, oferta do meu amigo António
Abaladas, na Primavera desse mesmo ano, com palavras que dizem: «Imperdível.
É saber viver a utupia e não deixar estragar a “Festa”», encontra-se no Outro
Lado das Estantes e aguardava vez para ser colocado. Lamentavelmente, chega
hoje por um muito triste motivo: Sebastião Salgado, o fotógrafo que gravou em
película a desumanidade dos que, apesar de tudo, teimam em sobreviver,
deixou-nos há alguns dias.
Para epígrafe do
admirável texto que para este livro, também admirável, escreveu, José Saramago
foi buscar versos do extraordinário poema de João Cabral de Melo Neto: Vida
e Morte Severina
«É difícil defender
só com palavras a vida
(ainda mais quando ela é
esta que vê, severina).»
Sempre gostei de
fotografia. Aos 15 anos tirava fotografias numa Kodak de brincar. Outras
máquinas fui tendo nas faltou-me sempre aquele toque de voo de pássaro que
pudesse fazer diferenças.
Luís Eme,
registando, no seu Largo da Memória, a morte de Sebastião Salgado, escreveu:
« O desaparecimento
de Sebastião Salgado é um bom motivo para falar de fotografia, como arte, mas
também como objecto de denúncia, de clarificação, porque o que ele mais gostava
de retratar era um mundo desigual e devastador, graças à acção do homem, mas
sempre a perseguir a diferença, a encontrar beleza mesmo no
"inferno".
Penso que ele chegou onde mais ninguém foi (muitos
nunca quiseram ir por aí, até por uma questão de filosofia de vida e do
entendimento que tinham da imagem). Onde havia exploração, escravidão,
devastação, miséria, ele foi lá, e tirou retratos a tudo e mais alguma coisa,
sem estar preso a questões éticas e morais.
No meu caso pessoal, devo dizer que a partir de certa
altura, comecei a desinteressar-me pela sua fotografia. Senti que aquilo era
tudo muito igual, ou seja, ele já não me surpreendia com a beleza das suas
imagens.
Acho que isso aconteceu quando entrei mais dentro da
fotografia. Fui educando o meu olhar, através da prática da fotografia e também
de conversas com amigos fotógrafos (as conversas influenciam-nos muito, mesmo
sem darmos por isso...), comecei a achar que as imagens de Sebastião eram
demasiado encenadas. Até mesmo a miséria humana, não me parecia real, entre
outras coisas, mesmo que o fotógrafo brasileiro tivesse sempre a arte como
prioridade, no seu olhar...
É por isso que eu digo que a fotografia com Sebastião
Salgado, ganha uma beleza única (os seus cinzentos são uma marca...), mas
também se torna complexa, enquanto objecto social...»
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