segunda-feira, 19 de maio de 2025

BLOGUEANDO POR AÍ

«Em seis anos, Chega sobe de 1,3% para 23% e empata com PS." Nos próximos dias vamos ouvir muitos comentários sobre este fenómeno, as televisões vão dedicar horas infindas a este fenómeno, dezenas de comentadores vão debruçar-se sobre este fenómeno, mas é quase certo que ninguém vai perder um minuto a escrutinar os deputados eleitos e as razões por detrás da sua eleição. O fenómeno continuará a crescer, porque vai crescer ainda mais, porque por detrás do seu crescimento não está apenas o descontentamento, não está sequer a ideologia, mas está, definitivamente que está, a rendição do racionalismo ao espectáculo, às paixões exacerbadas e às emoções sem freio. Tudo isto é muito antigo e vem desse páthos que os gregos nos deixaram de herança e Nietzsche associou ao rancor e ao desejo de vingança. As bandeiras do "Portugal é nosso", "os portugueses primeiro", acompanhadas dos chavões do "isto é tudo uma bandalheira" ou a "imigração descontrolada", não têm outra raiz senão o páthos que só com a razão se combate, uma razão que os media dispensam, porque não oferece audiências, e as novas plataformas de comunicação, controladas por bilionários como Elon Musk ou Mark Zuckerber, acorrentam com os grilhões do algoritmo. A razão só traz despesa, não dá dinheiro a ninguém, portanto adaptem-se. É que vai ser cada vez pior, já foi no passado e será no futuro. Querem uma imagem mais eloquente deste eterno retorno do que a hipocrisia com que se tem tratado o genocídio em Gaza? Também no passado os campos de extermínio eram um exagero, uma ilusão, uma mentira. A verdade chega sempre tarde, o páthos encarrega-se de atrasar o relógio.»

Lido na  Antologia do Esquecimento

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