segunda-feira, 12 de maio de 2025

POEMAS AUTOGRAFADOS


O Poema Autografado pertence, hoje, a José Fernandes Fafe.

É o nº 11 da Colecção Poetas de Hoje, editada pela Portugália Editora e chama-se Poesia Amável.

Já fomos dizendo que a maior parte dos volumes desta Colecção tem a abrir um prefácio. Curiosamente, José Gomes Ferreira, escolhido para fazer o prefácio do livro de José Fernandes Fafe, escreve:

«Por Minerva! um livro destes não necessita de prefácio! Merecia aparecer sozinho na sua simplicidade de sorriso colado, por escândalo, nos dentes podres da caveira dos tempos. Sim, orgulhosamente sòzinho.

Porém, segundo parece, a organização interna da Colecção Poetas de Hoje exige a implacável inclusão dum prefácio.»

O poema escolhido por José Fernandes Fafe como autógrafo, chama-se:

 

Os Nossos Jardins Suspensos

 

Os nossos jardins suspensos

São estas mulheres:

 

Carregam à cabeça

cestos densos de lírios,

maravilhas, malmequeres…

 

José Fernandes Fafe, para além de poesia e romance foi autor da biografia de Ernesto Che Guevara, editada em Itália, pela Mondadori, em 1968, sob o pseudónimo de David Alport.

Após o 25 de Abril foi embaixador de Portugal em Cuba, mais tarde também embaixador no México, Cabo Verde e Argentina.

Os poemas de Fafe não poderiam deixar de ser outra senão o serem Amáveis.

Como nota o Zé Gomes Ferreira:

«Como vêem, o segredo é fácil e José Fernandes Fafe decifrou-o, despremeditado, de rua em rua, mãos nas algibeiras, a assobiar e a sorrir. (Com a caveira a doer-lhe por dentro, claro.).

A poesia não o larga nunca. Nem na cadeira do barbeiro, ave de tesoiras… E muito menos nas andanças pelo planeta. Segue-o por toda a parte, de braços enrolados no pescoço a segredar-lhe improvisos (talvez laboriosamente fabricados. Sabe-se lá o que se passa nos laboratórios secretos dos artistas!).»

Mais ainda:

«Não, não é por coincidência que o primeiro poema de Poesia Amável é um Salmo à manhã. Nem por acaso que, no belo fecho do livro, surge este verso tão revelador:

A minha casa fica na Manhã»

Transcrevemos todo o poema:

 

Estas palavras são a casa dum louco.

Anda lá dentro um

e a falar só…

 

Este papel branco é a luz calcárea

os cegos acordeonistas de Lisboa…

 

A minha casa fica na Manhã.

 

Todos os dias a destroem,

Todos os dias a reinvento.

 

A minha casa é o Amor.

 

A minha casa é a Liberdade.

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