Exausta à beira do remorso à beira
do rio do remorso do silêncio
do roxo da montanha do remorso
da folha de combate mesmo à sombra
da planta do remorso venenível
da água enfeitiçada onde mais dura
e escura há uma areia do remorso
Magoadamente às vezes não sei quando
talvez porque de leve as vozes voltam
ao quarto do remorso e sem remorso
escutam a cor tranquila do quadrado
removido de noite para a chuva
e aberto nos meus olhos sem remorso
Magoadamente às vezes não sei quando
remo remo no dorso do remorso
A distância é um grito do avesso
decomponho o minuto em trinta passos
e de novo de súbito o primeiro
segundo movimento despenhando
o sangue do remorso já na curva
veia obscura obcecada do remorso
e a certeza inútil: hino útil
de agora ter o alimento humano
o braço o breve a sede o leite nervo
do remorso excessivo de mais nada
de ser até demais dizer de nada
– o nada certo e lento no entanto
dor ou solstício e no entanto a dor
do sol do estio do vestígio
magoadamente às vezes não sei quando
Maria Alberta Menéres
em Poesia 70
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