O Sorriso Aos Pés Da Escada
Henry Miller
Prefácio: Vitor Silva
Tavares
Tradução: Célia
Henriques e Vitor Silva Tavares
Capa: Tocha de Sousa
Editora Ulisseia,
Lisboa, Dezembro de 1966
Todas as noites, ao aplicar o maquillage, Augusto discutia com os seus
botões. As focas, não importa o que fossem obrigadas a fazer, permaneciam
sempre focas. O cavalo, um cavalo; a mesa, uma mesa. Augusto, embora
permanecendo um homem, era obrigado a tornar-se em algo mais: tinha de assumir
os poderes de um ser excepcional dotado de um excepcional talento. Tinha de fazer
rir as pessoas. Não era difícil fazê-las chorar, tão-pouco fazê-las rir;
descobrira isso há muito tempo, antes mesmo de sequer ter entrado para o circo.
Mais altas, porém, eram as suas ambições – queria dotar os espectadores de uma
alegria que se revelasse imperecível. Foi esta obsessão que primeiramente o levou
a sentar-se aos pés da da escada e simular o êxtase. Caindo, por mero acaso, na
imitação de um transe – esquecera-se do que iria fazer a seguir. Quando voltou
a si, um tanto confuso e em extremo apreensivo, encontrou-se a ser aplaudido freneticamente.
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