O Tio Prodigioso
Fredric Brown
Tradução: Mário
Quintana
Capa: Cândido Costa Pinto
Colecção Vampiro nº
56
Editora Livros do
Brasil, Lisboa s/d
No meu sonho, eu estendia o braço através da montra de uma loja. Era a
loja que fica em North Clark Street, a meia quadra da Grande Avenida. Estava
quase a alcançar um trombone de prata. As outras coisas da vitrina estavam
enevoadas e vagas.
O canto fez com que eu me voltasse, em vez de pegar no trombone de
prata. Era a voz de Gardie.
Ela vinha cantando e saltando à corda, ao longo da calçada. Tal como
costumava fazer antes de entrar para a escola secundária, no ano passado, e de
se tornar um chamariz de rapazes, com os lábios pintados e rouge por toda a
cara. Ainda não tinha quinze anos: três anos e meio mais nova do que eu. Agora,
neste meu sonho, estava pintada como sempre, mas pulava à corda, também, e
cantava como uma garota: um, dois, três – upa! – quatro, cinco, seis – upa!
Sete, oito, nove – u…
Mas, no meio do sonho, eu ia despertando. É uma confusão quando se fica
assim, com um pé lá e outro cá. O barulho do comboio passando no viaduto quase
faz parte do sonho, alguém caminha lá fora, no corredor, e – depois de o
comboio ter passado – há a campainha do despertador que se põe a tocar no chão,
junto à cama, e o pequeno estalido extra que dá, quando a mola está quase a
rebentar.
Fi-lo parar e estendi-me de nova na cama, mas de olhos abertos, porque
não queria tornar a dormir. O sonho já se tinha ido embora. Eu desejava ter um
trombone, pensei; foi por isso que sonhei, aquilo. Por que carga de água veio
essa Gardie, despertar-me?
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