terça-feira, 13 de março de 2018

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Muito se discutiu o anonimato deste livro. O que eu discutia, entretanto, dentro de mim, era se devia ou não desvendar-lhe a sua origem íntima: revelar a sua progenitura era desnudar a intimidade do seu nascimento. E não se me afigurava que semelhante gesto se mostrasse leal para com os arrebatamentos de amor e fúria, para com o clima desconsolado e ardente do desterro que lhe deu nascimento.
Penso, por outro lado que todos os livros deveriam ser anónimos. Mas entre retirar o meu nome de todos os meus ou confiá-lo ao mais misteriosos de todos eles, cedi, por fim, ainda que sem grande empenho.
Porque guardou ele o seu segredo durante tanto tempo? – perguntar-se-á. Por tudo e por nada, por isto ou por aquilo, por alegrias impróprias, por sofrimentos alheios. Quando Polo Ricci, meu luminoso companheiro, o imprimiu pelam primeira vez em Nápoles, em 1952, pensámos que os escassos exemplares por ele acarinhados e preparados com excelência desapareceriam sem deixar rasto nas areias do Sul.
Não foi assim. E a vida que reclamou o seu estalido secreto impõe-mo hoje como sinal de inalterável amor.
Entrego, pois, este livro sem mais explicações, como se ele fosse w não fosse meu: basta-lhe que possa caminhar sozinho pelo mundo e crescer por sua conta. Agora que o reconheço, espero que o seu sangue furiosos me reconheça também.

Ilha Negra, Novembro de 1963

                                                                                         PABLO NERUDA         

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