segunda-feira, 19 de março de 2018

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A pide era uma máquina objectiva e formal cujo primeiro dever consistia em dissimular a sua própria actividade e paradoxalmente impô-la como «normal». Quando «Corpo-Delito» a toma como tema, a normalização da sua incurável «anormalidade» é praticamente perfeita. A máquina tortura, a máquina prende, a máquina escuta num anonimato feliz, eficiente. Cardoso Pires apresenta-nos os seus agentes-personagens como siglas, absorvidos na e pela função, tendo perdido há muito qualquer reflexo humano em relação ao que a máquina «faz» ou «executa» e de que ele são, à letra, os executantes.

Eduardo Lourenço no prefácio a Corpo-Delito na Sala de Espelhos

Legenda: fachada da sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso.

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