A pide era uma máquina objectiva e formal cujo primeiro dever consistia
em dissimular a sua própria actividade e paradoxalmente impô-la como «normal».
Quando «Corpo-Delito» a toma como tema, a normalização da sua incurável
«anormalidade» é praticamente perfeita. A máquina tortura, a máquina prende, a
máquina escuta num anonimato feliz, eficiente. Cardoso Pires apresenta-nos os
seus agentes-personagens como siglas, absorvidos na e pela função, tendo
perdido há muito qualquer reflexo humano em relação ao que a máquina «faz» ou
«executa» e de que ele são, à letra, os executantes.
Eduardo Lourenço no
prefácio a Corpo-Delito na Sala de Espelhos
Legenda: fachada da sede da PIDE na Rua
António Maria Cardoso.
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